9 de dezembro de 2013

Um Novo e Subversivo Reino

Um ramo surgirá do tronco de Jessé, 
e das suas raízes brotará um renovo.
(Isaías 11...) 

O velho profeta anunciava a chegada do menino, o ramo no tronco de Jessé, como a chegada de um novo Reino. Na boca de Isaías, o nascimento do ungido que seria chamado Emanuel - Deus conosco - era a aurora de uma revolução sem precedentes.

E o bebê que surge nos evangelhos, 600 anos depois do profeta, surge arrebentando a boca do balão. No que diz respeito à subversão (Subverter = perverter; pertubar; desordenar; corromper; sublevar; conturbar; convulsionar; tumultuar), o primogênito de Maria entra de sola. Rei nascido entre os bichos e deitado na palha dura de um cocho, em uma cidadezinha esquecida num canto da palestina, o surgimento do rebento por pouco não passou despercebido de quem quer que fosse, à exceção de umas vaquinhas e jumentos que, naquela noite, não tiveram onde comer. Os poucos afortunados que souberam do fato histórico que viria a dividir para sempre o calendário ocidental, foram gente de terceira categoria. Pastoreando ovelhas à noite, fora dos holofotes e do agito da cidade, funcionários do turno 3 ouviram anjos e foram ver o pequenino. Depois deles, José e Maria, quando levaram o guri para apresentá-lo ao Deus judeu, como mandava a tradição, foram abordados por um velhinho aposentado e uma senhora amalucada no pátio do templo. Sacerdotes, levitas e fariseus também estavam por lá, mas viram somente mais um bebê entre tantos. Aí vieram os astrólogos, observadores de estrelas, de algum canto não registrado do oriente, pagãos incircuncisos, que não eram reis coisa nenhuma, sei lá de onde tiraram isso. Depois desses, somente trinta anos depois é que surge o doido varrido do João, o primeiro vegano (veganos comeriam insetos?), berrando do meio do rio Jordão - "eis o cordeiro de Deus!". Só gente da periferia, párias distantes dos holofotes é que reconheceram naquele indivíduo o Renovo, a raiz de Jessé evocada por Isaías.

É subversão a dar com o pau. Tudo errado. Tudo fora do protocolo. Parece até provocação. O rei revolucionário que surge, surge revolucionariamente.

Ninguém à exceção dessa gente distante da oficialidade, da respeitabilidade vinda do status, dos diplomas e das indicações, conseguiu enxergar naquele Jesus, o Cristo. E porquê? Ora, os respeitáveis temem qualquer coisa que surja de outros que não seus pares. Que não seus iguais. Por isso os respeitáveis oprimem, calam e, se preciso, matam aqueles que, não sendo respeitáveis como eles, surgem clamando por justiça, igualdade e "julgando a favor dos pobres" (Is 11). Os respeitáveis, não raro, assumem a forma de lobos, leopardos, leões e cobras. O que mais temem é perder sua posição de predadores e serem forçados a deitar lado a lado com os pequeninos, com os frágeis.

O anúncio da vinda do messias é o anúncio de um sonho maravilhoso materializado no esvaziamento de Deus, na fragilização do criador, no Deus bebê deitado na manjedoura. O anúncio do fim da lógica de presa e predador como mola propulsora da humanidade.

"O lobo viverá com o cordeiro.
(...) Uma criança os guiará".


O Reino que nasce em Cristo é o reino daqueles que submetem-se a ser guiados por uma criança. Que abrem mão de um sistema que está todo ele fundamentado em predadores e presas. Que se satisfazem com a ausência das hierarquias de controle, com a fraternidade, com o irmanamento de todos. Que, sendo fortes, abrem mão de sua força e, sendo fracos, não querem uma revolução que os coloque no poder e inverta a opressão. Querem caminhar ombro a ombro, lado a lado. É o sonho de Isaías, o delírio de Mandela.

Mas isso, e aí está o ponto mais subversivo de toda essa subversão, não pode surgir por meio da força, das lutas armadas, dos gritos de guerra. É convulsão interior armada apenas com aquilo que Nietsche definiu como a maior fraqueza: o amor. Não qualquer amorzinho abobado, romântico e chorão, mas o amor de Jesus, o amor que aquele bebezinho deitado no cocho levaria às últimas consequências.

O Reino é, enfim, silenciosa e discreta semente procurando solo fértil no coração do homem, buscando aqueles que a recebam com o solo irrigado e sigam os passos do Mestre.


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