1 de julho de 2014

Amigos de montanha

É revelador, no caso da página de agradecimento do meu novo livro, que o verbo passar, na terceira pessoa do plural, tenha exatamente a mesma conjugação no passado e presente.

Aos amigos de montanha, pelo tempo que passamos lá.


Foram muitos os amigos que fiz na montanha e, definitivamente, são os melhores. Me desculpem os demais, mas amizade de montanha é um tipo de amizade plus. Você passa fome, sede, frio e medo pavor junto. Dorme junto, repartindo aquele cheiro azedo de chulé e suor. Amigos de montanha passam a noite encolhidos e encharcados no meio do mato porque a lona que cobria as redes rasgou. Compartilham muita chuva e ficam com os cabelos arrepiados pela estática dos raios ribombando ao seu redor durante uma tempestade de verão. Amigos de montanha jantam miojo cru porque o fogareiro não funcionou e telefonam às 6h da manhã de domingo pra marcar aquele bate e volta no Canal. Amigos de montanha colocam de novo no lugar o dedo destroncado do parceiro que caiu numa greta e arrancam espinhos das costas do irmão alvejado por um cacto voador.

Não há, portanto, como comparar. Amigo de montanha é amigo e mais um pouco, ou muito. E dedico o livro que escrevi a cada um deles.

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