1 de março de 2015

O outro lado do rio

O 'Morro da Companhia', banhado a ouro, da janela de casa.

 O salmista gritava aflito seu horror pela injustiça do mundo que o cercava. Três mil e quinhentos anos depois, enquanto admiro o incrível poente amarelo que surge arrebatador de uma tempestade de verão, silenciosamente grito o mesmo. A beleza do crepúsculo dourado contrapõe-se violentamente à crueza desse mundo injusto.

Um largo rio divide a humanidade em duas e, por acaso, encontro-me na margem onde manam leite e mel. Meu olhar atravessa a inclemente corrente de águas e me deixa assustado e confuso. A margem oposta é árida, angulosa, obtusa, rude mas, ainda assim, misteriosamente bela, com um tipo de beleza crua que não se encontra do lado de cá. No conforto da minha margem, sinto-me agora tomado de angústia, querendo, como o jovem Ernesto Guevara um dia antes de deixar o leprosário de San Pablo, "passar meu aniversário do outro lado do rio".

Um comentário:

  1. Como disse um amigo meu, ao voltar de uma viagem de 2 anos pelos Estados Unidos, ao padeiro que o interpelou, atônito: "Mas voltar, por que?!?!?".
    É que eu gosto daqui, do sofrimento...

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