Em um remoto condomínio de uma cidadezinha em Minas Gerais
haveria eleição para síndico. Eram quatro candidatos. Um dos moradores, Marco Sá do Valle,
festeiro, chegado em um rega-bofe, contumaz promotor de pândegas entre amigos, interessou-se
em participar de perto da disputa eletiva apoiando, de forma honesta e justa,
sem nenhum partidarismo, cada um dos quatro candidatos. Sutilmente, por trás
das cortinas, distribuiu entre todos valores suficientes para produção de
cartazes e ímãs de geladeira.
Simultaneamente, enquanto a campanha se desenrolava, o
diligente morador redigiu novas regras, mais flexíveis, para o uso do salão de
festas do condomínio, já prevendo entregá-las a quem quer que vencesse o
pleito, sugerindo humildemente sua aplicação como forma de agradecimento aos
favores de campanha.
E houve eleição, e houve um vencedor. O generoso mecenas procurou
o vitorioso assim que soube do resultado e cumprimentou-o discretamente com a
mão direita, oferecendo na esquerda a sugestão de mudança no estatuto. O aperto
de mão foi acompanhando de galante piscadela e a despedida contou com um gentil
tapinha nas costas.
Mas antes mesmo que o novo estatuto fosse apresentado e
aprovado em reunião de condomínio, o galhofeiro Marcos Sá agendou sua primeira
festa. E foi uma daquelas. A moçada bebeu tanto, dançou tanto, cantou tanto,
girou tanto que, num acidente provocado por algum corpo desgovernado no meio da
balbúrdia, o salão de festas pegou fogo. A chama surgiu recatada na cortina,
mas como o povaréu não estava lá com o discernimento muito aferido naquela
altura do festerê, logo esparramou-se por todo salão sem o menor
constrangimento. Quando enfim alguém se deu conta, a labareda já estava fora de
controle e foi uma correria só.
O fogo foi tão intenso que abalou as estruturas do salão e
botou a construção toda abaixo. O entulho desabou sobre a piscina, que rachou-se
com a violência do tombo. A água infiltrou pela laje, que começou a gemer e trincar
enquanto caliça e água gotejavam no estacionamento. Alguns moradores
conseguiram tirar os carros antes da laje, enfim, desabar.
O prédio permaneceu
em pé não se sabe como. Os moradores ficaram aterrorizados e revoltados, querendo
saber onde estava o responsável por aquele caos. O síndico foi imediatamente
acionado e surgiu no meio da gritaria acalmando a multidão: calma gente, calma. Vamos aplicar no
responsável - falou sem citar nomes - uma
multa de pelo menos uns mil reais.
Marco Sá do Valle ouvia a zoeira do seu quarto, onde
arrumava a mudança. Havia alugado um apartamento no prédio ao lado e já reservara
o salão de festas para a próxima folia.
analogia criativa
ResponderExcluir