16 de novembro de 2015

O síndico e o pândego

Em um remoto condomínio de uma cidadezinha em Minas Gerais haveria eleição para síndico. Eram quatro candidatos. Um dos moradores, Marco Sá do Valle, festeiro, chegado em um rega-bofe, contumaz promotor de pândegas entre amigos, interessou-se em participar de perto da disputa eletiva apoiando, de forma honesta e justa, sem nenhum partidarismo, cada um dos quatro candidatos. Sutilmente, por trás das cortinas, distribuiu entre todos valores suficientes para produção de cartazes e ímãs de geladeira.

Simultaneamente, enquanto a campanha se desenrolava, o diligente morador redigiu novas regras, mais flexíveis, para o uso do salão de festas do condomínio, já prevendo entregá-las a quem quer que vencesse o pleito, sugerindo humildemente sua aplicação como forma de agradecimento aos favores de campanha.

E houve eleição, e houve um vencedor. O generoso mecenas procurou o vitorioso assim que soube do resultado e cumprimentou-o discretamente com a mão direita, oferecendo na esquerda a sugestão de mudança no estatuto. O aperto de mão foi acompanhando de galante piscadela e a despedida contou com um gentil tapinha nas costas.

Mas antes mesmo que o novo estatuto fosse apresentado e aprovado em reunião de condomínio, o galhofeiro Marcos Sá agendou sua primeira festa. E foi uma daquelas. A moçada bebeu tanto, dançou tanto, cantou tanto, girou tanto que, num acidente provocado por algum corpo desgovernado no meio da balbúrdia, o salão de festas pegou fogo. A chama surgiu recatada na cortina, mas como o povaréu não estava lá com o discernimento muito aferido naquela altura do festerê, logo esparramou-se por todo salão sem o menor constrangimento. Quando enfim alguém se deu conta, a labareda já estava fora de controle e foi uma correria só.

O fogo foi tão intenso que abalou as estruturas do salão e botou a construção toda abaixo. O entulho desabou sobre a piscina, que rachou-se com a violência do tombo. A água infiltrou pela laje, que começou a gemer e trincar enquanto caliça e água gotejavam no estacionamento. Alguns moradores conseguiram tirar os carros antes da laje, enfim, desabar.

O prédio permaneceu em pé não se sabe como. Os moradores ficaram aterrorizados e revoltados, querendo saber onde estava o responsável por aquele caos. O síndico foi imediatamente acionado e surgiu no meio da gritaria acalmando a multidão: calma gente, calma. Vamos aplicar no responsável - falou sem citar nomes - uma multa de pelo menos uns mil reais.

Marco Sá do Valle ouvia a zoeira do seu quarto, onde arrumava a mudança. Havia alugado um apartamento no prédio ao lado e já reservara o salão de festas para a próxima folia.

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