14 de maio de 2009

Jesus, o peripatético [2]

Se Jesus, como é inegável, foi um peripatético, não é de se admirar que Deus também o seja. Tal pai, tal filho. Mas a questão relamente importante jamais será o que Jesus foi ou o que Deus é. O fato constragedor é que, antes de partir, Jesus convocou qualquer um que o desejasse seguir a ser como ele.

A peripatetada divina, no entanto, não era nenhuma novidade. Muito antes de Cristo Deus já anunciava de forma clara, apesar de simbólica, que desejava que fossemos todos tão peripatéticos quanto seu filho veio a ser. A idéia de um tabernáculo móvel, das tendas, da ausência da figura estática do Rei em favor da figura nômade e inesperada dos juízes, sinalizava claramente que para Deus o espírito do homem, e tudo que dele derivasse, fora criado para ser livre e errante. As raízes, os fundamentos, os alicerces, as sapatas, as vigas e colunas foram e sempre serão uma antítese do pensamento original. Um anteparo ao sopro divino. Quando percebi isso passei a ver mendigos e andarilhos como profetas* que encarnam a mensagem com a ousadia que alguém civilizado e higienizado como eu jamais terá. Nosso mundinho exige conforto e segurança e ambos excluem qualquer possibilidade de liberdade.

Jesus é peripatético e nós, ao longo da história, abandonamos o "peri" tornando-nos miseravelmente patéticos.

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Veja também:
Jesus, o peripatético


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*Antes que alguém sinta-se chocado por eu considerar um mendigo profeta (ao invés dos profetas almofadinhas e prepotentes que manipulam as platéias de muitas igrejas por aí), lembremos de Jeremias andando pelado pela Palestina, ou o coitado do Oséias assumindo de boa-vontade os cornos que sua esposa lhe oferecia. Ser profeta, meus amigos, é ser louco. Não é a toa que o povo queria matar esses indesejáveis da mesma maneira que matam mendigos em Brasilia.

5 comentários:

  1. Anônimo8:57 PM

    Realmente Tuco... patético(s)!
    Já dizia alguém..."Ser espiritual é ser totalmente (completamente) humano". Desarmar-se da carga intelectual adquirida no decorrer dos dias, do pré-conceito, sair ao encontro das pessoas como um simples mas completo humano.
    Ter "cheiro de gente".
    Doia

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  2. É preciso ter raízes. Confundiram, porém, as raízes históricas e culturais, necessárias para a identidade, com enraizamentos materiais e geográficos que criam falsa idéia de segurança, permanência e alimentam a ganância e o egoísmo.
    Mas, cabe aqui um parêntesis, eu não sou "peri". Sou só patético...

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  3. A partir de quando iremos aprender com esses mendigos e viver parte daquilo que viveram?

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  4. Excelente texto e reflexões. Pensei muito sobre o que gostaria de escrever, como comentario, mas não consegui encontrar palavras que expressassem o que penso sem dar margem a outros entendimentos que soassem preconceituosos. O que tentei dizer sem conseguir é que alguns que se vestem em mendigos são tambem como demônios, vampiros da energia alheia, e que ai estão para comover e enfraquecer quem deles se aproxima. Eu já vi.
    Mas concordo com sua regra. Duras são as excessões.

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  5. Somos todos patéticos, creio. Ou quase todos.

    Demônios e vampiros estão por todos os cantos. Mas tb há anjos, como os da Casa Amarela.

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