12 de novembro de 2010

As sandálias de Tereza

O Roger, incansável promotor de desordem do blog Teologia Livre, vem citando alguns textos do sensacional livro Maravilhosa Graça, do Yancey.  Um dos textos citados fala sobre um encontro entre Madre Tereza de Calcutá e Bill Clinton, debaixo das nuvens cinzas de um assunto tenebroso que virou tema de campanha presidencial no Brasil - o aborto.

O que me chamou a atenção no discuso da mulher franzina que assombrou o mundo com o poder de sua fraqueza, foi quando, referindo-se às mulheres dispostas à prática do aborto, declarou:  "Dêem esses filhos para mim. Eu os quero. Eu cuidarei deles." Madre Tereza é, para mim, sempre um adorável constrangimento.

O Rubinho, no entanto, nos lembrou que o buraco é mais em baixo e que, obviamente, "dar os bebês para a madre não seria uma solução viável, certo? Então, não seria solução!".

Está certo o Rubinho, como de costume. O problema é complexo mesmo, e a Madre jamais o resolveria. Mas isso não esmorece o fato de que a coragem da mulher é de doer. Cada um "antiabortista" militante deveria assumir a mesma responsabilidade que a Madre assumiu. A mesma disposição. Mais que disposição, a mesma atitude, visto que Madre Tereza recebeu muitos milhares de crianças em Calcutá, colocou alguns milhares em lares adotivos e cuidou de outros milhares nos orfanatos da Ordem das Missionárias da Caridade.

A Madre também argumenta que "se aceitarmos que uma mãe pode matar até mesmo o seu próprio filho, como podemos dizer às outras pessoas para não se matarem umas às outras?".  Não concordo com esse pensamento (mesmo tendo sido citado como irrefutável em um comentário ao artigo do Roger). É simplório, genérico e transversal aos fatos e as peculiaridades de cada caso. Mas não tenho como não dobrar-me diante da coerência de uma mulher que, crendo como crê, assume para si a responsabilidade da sua crença.

Taí o soco no estômago. Eu creio em uma porção de coisas bonitas e louváveis que seriam capazes de transformar o mundo em um lugarzinho mais batuta, mas sou um covarde, indigno de desatar as sandálias dos pés de Tereza.


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Veja também:
Escuridão em Calcutá

3 comentários:

  1. Pra variar, citam meu nome como se valor tivesse. Azar de quem o cita.
    Quanto a ser indigno de desatar sandálias, estou de acordo. De minha parte, sinto-me indigno de desatar sandálias de qualquer um...

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  2. Ora
    Se valor não há
    No nome de um homem
    Onde haverá?
    :-)

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