26 de julho de 2016

O vértice

Um vento gelado e cortante sobe bufando a galope do fundo do vale.
Nós estamos enfileirados na crista oeste do monte,
subindo a passos lentos mas constantes.
Pisamos cautelosamente a fina lâmina que divide dois desfiladeiros.
Passo a passo nos equilibramos nesse vértice com os olhos fixos no cume,
de onde será possível vislumbrar um horizonte amplo, repleto de esperança.
Mas o fundo do vale há anos vem enchendo os pulmões, preparando a viração,
e as primeiras golfadas de ar gélido já assobiam na orelha de quem se equilibra na crista.
Já se ouve a farfalha dos galhos.
Haverá quem aguente as rufadas mais fortes que se avizinham?
Quem olha pra trás vê o mato curvar-se à força.
O tênue fiapo de esperança que permanece intacto
é que o vento mude de direção antes de botar tudo a perder,
antes de levar-nos todos de volta à base do monte,
de onde inevitavelmente começaremos tudo de novo,
como temos feito nos últimos 500 anos.

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