6 de fevereiro de 2007

Missão Caiuá - velório, protesto e Eric Clapton

DA SÉRIE CAIUÁS
Sexta

Sexta foi nosso dia de folga. A semana foi puxada. Dormimos um pouco mais (até às 8h) e passamos a manhã na sede da Missão, arrumando algumas coisas e batendo papo. À tarde saímos com o Gervásio para o velório da mulher assassinada na terça. Os índios exigiam enterrar o corpo na fazenda onde ela foi morta, mas o fazendeiro não permitia. O negócio foi parar na justiça e os índios bloquearam a estrada até a resposta final. Nesse período o caixão ficaria sendo velado. Já haviam passado 4 dias, e o caixão exalava um odor terrível. O líquido da decomposição do corpo escorria pelo canto do caixão e deixava uma mancha fétida no chão, infestada de moscas. Nauseados, conversamos e oramos com o irmã da defunta.



Depois fomos até a barreira na estrada. Observamos o movimento de longe. Alguns tinham paus e pedras nas mãos, um carregava arco e flecha e alguns feiticeiros vestidos à caráter estavam no local. Graças a Deus o Gervásio é muito respeitado entre eles e acabamos bem recebidos. Alguns do nosso grupo brincaram com o arco e flecha enquanto a Sandra e eu conversamos com o capitão (cacique) Marino. Ele nos falou da dificuldade de manter as fronteiras da Aldeia, alegando que os fazendeiros lentamente invadem áreas da reserva. E confirmou que os maiores problemas entre eles são originados por bebida e drogas. Muitos índios são também usados como mulas para passar drogas do Paraguai para o Brasil. Além disso, é altíssima a taxa de mortalidade infantil entre eles (27%). Uma das principais causas dessa mortalidade é o descuido das famílias. O governos dá auxílio financeiro para cada nascimento, e um salário durante os 6 primeiros meses de vida do bebê. Esse é, muitas vezes, o único sustento da família. Depois desse prazo, acontecem casos de abandono de bebês, que morrem sozinhos no meio do mato.

Nos reunimos à noite, numa roda de bate-papo, para conversar sobre tudo que vivemos durante a semana. Foi uma delícia. Momento de comunhão profunda, adoração genuína, com o violão do Israel tocando Eric Clapton ao fundo (os mais santos que nos perdoem). Muita emoção, risada e choro.

O sábado promete muita correria, com uma programação intensa de histórias, jogos e brincadeiras pros mita-kwera e adolescentes. Das 8h às 20h, direto. Terminamos de preparar as coisas para o sábado somente de madrugada.

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Veja também:

MISSÃO CAIUÁ

1.
Chegada
2. Campo (de futebol) missionário
3. Olhares desconfiados
4. A palestra de domingo
5. Finalmente, janela aberta
6. Uma índia assassinada
7. Coragem
8. Uns semeiam, outros regam...
9. Velório, protesto e Eric Clapton
10. Gincana, oficina, esporte e muita história
11. Gratidão
12. Alegria e lágrimas
13. Brasil, emaña yvate

2 comentários:

  1. Eric Clapton?? uahuahuahuahuahuahua
    meu mas aquela noite foi 10, acho que todo mundo chorou um pouquinho (tb, com trilha sonora e tudo, como NÃO se emocionar? rsrsrs) e foi maravilhoso compartilhar com irmãos tão preciosos! mtas saudades daqueles dias, Deus foi muito generoso conosco, não?!!
    cara, tá ficando mto bom isso aqui!!
    Nhandejáry tanderovasa

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  2. Valeu Sara. A grafia correta da frase, segundo o 'cacique' Jonas, seria:

    Nhandejary ta n´de rovassa.
    (Deus te abençoe)

    Pelo menos ele escreveu assim pra mim num bilhete.

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