15 de abril de 2007

A deforma protestante

A visão triunfalista enche de energia positiva a nova comunidade [evangélica]. Há uma obsessão pela “vitória”. Não há lugar para derrotados. Como se afirma: “somos mais do que vencedores”. Essa visão faz com que se evite todos os textos bíblicos que falem de problemas, sofrimentos, etc. O sofrimento de Jó, o martírio dos apóstolos, a humildade de Jesus, a prática de não vingar-se são temas esquecidos pela fé triunfalista.

O fiel também será vitorioso.

Há um constante uso de imagens vétero-testamentárias, associadas aos conflitos existenciais cotidianos. As lutas contra os inimigos, como Davi contra Golias, Israel contra os seus inimigos, são temas relacionados com os problemas modernos para encorajar o fiel de que ele também será vitorioso.

O crente é o cliente.

A mídia tem sido o grande veículo dos novos grupos. A expansão das idéias se dá principalmente via programas de rádio e de televisão. Esse procedimento trouxe modificações no panorama evangélico. Anteriormente os grupos eram bem definidos por suas posições doutrinárias e práticas. Hoje, muitas igrejas evangélicas e pentecostais adotam posturas vindas da mídia neopentecostal. Já não é tão fácil identificar a maneira de pensar de uma igreja por seu nome. Há diferenças enormes entre igrejas locais pertencentes a uma determinada denominação. Esse tipo de expansão neopentecostal estabeleceu também uma relação de clientelismo como os novos crentes.

Pronto-socorro espiritual.

As igrejas tradicionais e pentecostais clássicas estavam acostumadas à idéia de comunidade, ou seja uma certa igreja onde “os irmãos” se reúnem, cantam, pregam e convivem por anos. As novas igrejas são, como alguns se autodenominam, “pronto-socorro espiritual”. São igrejas grandes, feitas para multidões, abertas o dia inteiro em locais movimentados, onde não há uma relação comunitária e o fiel vai apenas para buscar “a bênção”, ou melhor dizendo “comprar” a bênção, já que a relação não meritória diante de Deus, tão enfatizada no protestantismo histórico, foi substituída por uma relação do tipo “toma lá, dá cá”.

A Aparecida do Norte dos neopentecostais.

O imaginário católico permanece na mente dos fiéis convertidos. Todavia é necessário rejeitar os símbolos antigos. Em seu lugar são colocados símbolos judaicos. Muitos usam estrelas de Davi, candelabros... tudo que vem de Israel é sagrado. Jerusalém é a nova “Aparecida do Norte” dos neopentecostais. A ruptura com a cultura dominante e ausência de história e ícones produz uma busca de símbolos, que são encontrados na cultura judaica.

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Adaptado do texto de Luiz Alberto T. Sayão
UMA AVALIAÇÃO SOCIOLÓGICADO PENTECOSTALISMO
E DO NEOPENTECOSTALISMO CONTEMPORÂNEO
Luiz Alberto T. Sayão é professor de hebraico e de Antigo

Testamento no Seminário Servo de Cristo, em São Paulo (SP).
Foi coordenador da Nova Versão Internacional da Bíblia e
é atualmente editor acadêmico de Edições Vida Nova.

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