18 de novembro de 2007

Não tenho nada com isso

Em dias em que nada é mais importante do que meu próprio umbigo, todas as nossas formas de julgamento moral têm dois pesos e duas medidas. Mesmo entre os mais bem intencionados (sutilmente, apesar das aparências) essa duplicidade é verdadeira. Entre as pessoas com que me relaciono, ninguém diria, analisando a sim mesmo, que é um egoista miserável. Mas a verdade é que todos lutamos exclusivamente por uma única causa - conforto pessoal.

Por exemplo. Sei que o Estado, tal como o concebemos, é responsável por algumas questões básicas na sociedade, tais como educação, segurança e saúde. E eles cobram caro por isso. Mas sei também que o Estado mostra-se absolutamente imcompetente para atuar nessas áreas, por isso me garanto. Tenho plano de saúde, previdência privada, seguro, alarme e grades nas janelas e meus filhos estudam em uma escola particular.

Me considero um dos cidadãos bem intencionados que citei no primeiro parágrafo, mas assumo corajosamente minha parcela pessoal de corrupção quando burlo a lei para pagar menos impostos ou ofereço uma ‘ajuda’ para que um policial faça vista grossa à minha falta. E tenho bons motivos para isso. Afinal de contas, é impossível sobreviver com todos os impostos que nos empurram goela abaixo, assim com é impossível andar em uma BR duplicada respeitando a absurda placa de 40 km/h.

Uso descaradamente o que está ao meu alcance para minimizar a ausência do Estado ou as injustiças impostas pela lei.

Mas existe gente por aí que não tem acesso aos luxos privados dos quais disponho (nem mesmo um trocado para colaborar com a força policial, ou a fiscalização no barraco). Gente que precisa de ajuda, que vive em situação lastimável, que não tem condições básicas para levar a vida com um mínimo de dignidade humana.

Mas isso não me diz respeito. Como me disse um dia desses um grande empresário de sucesso – faço minha parte pagando meus impostos (se ele paga mesmo tudo direitinho, nem perguntei).

O máximo, o supra-sumo, o êxtase de bondade que me cabe, é colaborar com algumas moedas aqui e ali, para que possa me ‘sentir mais leve’ como dizia uma bem-intencionada faixa por aí.

Enquanto isso uma série de entidades assistenciais e instituições de amparo aos excluídos pena mês a mês para conseguir manter-se em pé. Falta recurso financeiro, falta gente disposta a botar a mão na massa. Mas eu nem sei que entidades são essas – e é melhor nem ficar sabendo. Afinal de contas, definitivamente, não tenho nada com isso.

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Talvez algum incauto leitor fique curioso para conhecer as entidades de assistência social reconhecidas de Santa Catarina nas mais variadas áreas de atuação (criança, adolescente, idoso, portador de deficiência, dependente químico, etc). Existe até a possibilidade, ainda que remota, de que alguém resolva se envolver com alguma delas, doando seu tempo como voluntário, ou alguma espécie de recurso material.
Se for o seu caso consulte o CEASC.

Em outros estados, use o Google!

Vale a pena também conhecer o excelente trabalho da Visão Mundial.

7 comentários:

  1. Ah, não seja chato. Não me diga que preciso fazer mais do que ir à igreja e dar o dízimo, além de já pagar os impostos escorchantes.

    Não me diga que devo perder meu tempo e de minha família para ajudar os pobres.

    Eles são pobres porque não querem trabalhar...

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  2. É duro isso, mano.
    Temos a mania de pensar que só tem mais do que precisa, quem tem mais do que a gente.

    Acho que esse é um papo que sempre vale trazer à tona. É sempre bom repensar e reavaliar a questão sobre o que realmente é necessário e o que é supérfluo. E, principalmente, sobre o quantos estamos interessados em abrir mão de alguma coisa em benefício de outros.

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  3. Anônimo8:34 PM

    Ah, eu não tenho nada com isso. E detalhe: dízimo se devolve, não se paga.

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  4. Pois não é messs?????
    Tantas vezes choro até com propaganda de margarina (aquilo não esiste!!!)
    Outras vezes me sinto ridícula propondo saídas quixotescas...enfim
    A última foi acolher 6 garotas de rua em minha casa e por um ano me dedicar a amar e mostrar como se vive do lado de cá, com café da manhã, almoço, jantar, escola... Como se vive "do lado de Deus"...
    Fui parar numa clínica de recuperação, completamente, mas platei algumas sementes.
    Hoje, leio você meu irmão, e outros tantos de nós, e penso:
    Há esperança!
    E te pergunto:
    Afinal quem é o pobre????
    Deus seja conosco..

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  5. Leia o estudo:
    'DESORIENTE SEU NATAL'
    Postei no KOINONIA blog e creio que vc fara bom proveito!
    Graça e Paz!

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  6. Olá querido!
    Tem um post em solidáriedade ao Lou da "Gruta", lá no koinonia.
    Se puder vai lá pegar um button do
    Projeto Coração Valente

    Agradeço sua generosidade
    Paz prá tí
    ;)

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  7. VEJAM A VERDADE

    HÁ TANTO SEGUIDOR DE DEUS,
    MAS AMANTE DO DIABO,
    QUE NADA FAZ PELO SEU
    CORPO INERTE, ALI PROSTRADO.

    David Santos

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