9 de fevereiro de 2008

Nossa única esperança de redenção

Esqueçam Shinyashiki, “o segredo”, Rick Warren e Saddleback. Esqueçam a produtividade, o progresso, o sucesso, o crescimento, a performance, os louros a fama e as celebridades. Abominem, sobretudo, a excelência. Só o que poderá nos redimir é a mediocridade.

Nenhum plano ou projeto, pessoal, comunitário ou global, deliberadamente destinado ao sucesso e dependente de líderes capacitados, carismáticos e persuasivos terá o poder de nos livrar do fracasso da raça humana. Nossa última esperança de redenção reside tão somente no medíocre.

A única e terrível alternativa que nos resta é consertar o telhado, tratar as galinhas e plantar alface. Cultivar o ócio, espreguiçados em redes e bancos de praça, alimentando os pombos. Porque todo o passo que damos em direção ao sucesso é um passo dado em direção à ruína. Todo sucesso pessoal é ruína da humanidade.

Nossa última esperança de redenção está disponível a todos e a qualquer um, mas ninguém a quer. A salvação da raça humana, e do planeta, está em nos lançarmos corajosamente nos braços ordinários da mediocridade.

Precisamos reunir todos os livros, vídeos e apresentações de power point que insinuem sucesso, propósitos e metas. Buscar todo material usado em palestras motivacionais e convenções de vendas, todos os emails com metáforas sobre vencedores. Guardar todo esse ajuntamento devasso da recente produção humana em um porão profundo com paredes largas e porta de chumbo, repleto de naftalina, para que as futuras gerações o descubram intacto e riam-se de nós ao vasculharem nossos arquivos.

Que riam enquanto estiverem deitadas em suas redes, caminhando despreocupadas de pés no chão ou reunidas em rodas de conversa em torno de uma fogueira. Que riam enquanto concertam seus telhados ou constroem juntos a casa de seu irmão.

Que riam de nossa solidão, ganância e egoísmo, enquanto repartem o que têm, compartilham livremente o que produziram e dedicam-se às vidas uns dos outros.

Que riam dos nossos carros e mansões, do nosso luxo e sofisticação, da nossa tecnologia, de nossos fastfoods e nossos sonhos de riqueza. Que riam enquanto desfrutam a vida com poucos e suficientes recursos. Enquanto hospedam-se nas casas uns dos outros em longas viagens sem destino.

E que silenciem aos poucos, trocando olhares reverentes, em solene silêncio, por gratidão ao dia em que abrimos mão de tudo, abraçamos a mediocridade e salvamos o mundo.


"Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus."

3 comentários:

  1. Estou junto com você nesta caminhada pela mediocridade redentora.

    Podíamos até lançar um slogan:

    "Todo sucesso é transitório. Só a mediocridade é permanente."

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  2. Obrigado por tirar o peso dos meus ombros. Segundo sua proposta, já sou dono do Reino de Deus há tempos e não preciso mudar nada.

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