25 de junho de 2009

Pobreza F. C.

Uma das várias formações que o time teve:
? | Luis | Juninho | Tato | Salomão | Zeca | ?
? | Fernando | ? | ? | Patrício


Outra formação: De pé o primeiro (esquerda) é o Luis, o terceiro é o Beto.
O primeiro agachado da esquerda é grande centro-avante Tato.


As manhãs de sábado eram mágicas. No meio do bosque, os raios do sol rompiam o nevoeiro da manhã entre as copas mais altas dos eucaliptos. Atrás da mata, uma pequena colina conduzia a um córrego que saltávamos afoitos correndo na direção da cerca. Do lado de lá, a água brotava do solo gelada e límpida formando pequenos filetes de rios que serpenteavam entre o capim rumando incertos aos trilhos de trem. O local era todo nosso. Éramos piratas, exploradores, caubóis correndo atrás de cargueiros, tarzans balançando ousadamente nos caules ainda finos das árvores mais jovens. E tinha a bola. E tinha o campo. E os primos. E os filhos do Fernando Barros.

Na beira do campo ficava meu avô. O centroavante era meu pai, o Tato. Tio Zeca no meio-campo. Patrício, Fernando, Marcos, Luis, e mais uns tantos completavam o elenco. Venciam 8 de 10 partidas. O saldo de gols a favor era astronômico. Jogavam juntos desde muito antes de eu nascer. Formavam aquilo de mais prodigioso que a raça humana pôde vivenciar nas intrincadas relações sociais que desenvolveu desde que passou a andar sobre duas patas - um grupo de amigos.

Havia, nas manhãs de sábado, algo de religioso, de litúrgico. Até mesmo nas brigas e discussões. Era o homem na sua expressão menos mascarada, menos formal, mais natural, mais transparente e, portanto, mais santa. Não na altivez de sua prepotência, que é na verdade uma forma de mascarar sua fragilidade, mas na intensidade dos seus relacionamentos. Xingamentos, abraços, sorrisos e palavrões. Tudo encerrado com um grande encontro no bar, regado a ovo cozido e Caracu.

Eram homens. Eram gigantes. Eram senhores das manhãs de sábado.

No final do jogo, corríamos em direção ao gol chutando a bola avidamente, aproveitando os últimos instantes entre o fim do jogo e a saída para a Sede. Estávamos no lugar dos mestres. No campo deles. Nas traves onde meu pai fazia tantos gols. Éramos heróis também. Também gigantes nas manhãs de sábado.

3 comentários:

  1. Putz, bons tempos! Grandes sábados.
    Nos divertíamos demais mesmo nessas manhãs.

    Subíamos o mais alta que dava naquele eucaliptos gigantes. E empilhávamos pedras-britas nos trilhos pra ver se o trem capotava...

    E os jogos eram demais. Grande Pobreza F.C.

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  2. Empilhar brita no trilho esperando a tragédia com o trem: ai está uma traquinagem universal. Quando criança fazia o mesmo quando visitava a casa da avó.

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  3. Oi Tuco,

    Que belo texto! Como é bom viajar rumo a infância!

    Abraços Florentino!

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