2 de julho de 2009

Com licença

"Estou sozinho, sem saída, sem dinheiro e sem comida e feliz da vida!"

Quem é que acredita numa coisa dessas? Aprendemos desde muito cedo que o mundo é de quem produz, de quem tem, possui, junta, acumula, mostra, ostenta.

"Não sei o que foi que eu fiz pra merecer estar radiante de felicidade. Mais fácil ver o que não fiz. Fiz muito pouco aqui pra minha idade. Não me dediquei a nada, tudo eu fiz pela metade, porque então tanta felicidade?"

O mundo é de quem merece, de quem trabalha pesado, de quem honra seu nome, sobrenome, fé e sei lá mais o que. Os louros são entregues ao vencedor e tão somente a ele. "Faça por merecer" sussurra o capitão John Miller na orelha do soldado Ryan. É só por onde sabemos caminhar - pela via do merecimento. Dá licença.

"Enfim, eu já tentei de tudo, enfim eu quis ser conseqüente, mas desisti, vou ser feliz pra sempre. Peço a todos com licença, vamos liberar o pedaço. Felicidade assim desse tamanho só com muito espaço!"

Não deixe de clicar no play.
Definitivamente, Luiz Tatit merece ser ouvido.




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Felicidade

Luiz Tatit

Não sei porque eu tô tão feliz
Não há motivo algum pra ter tanta felicidade
Não sei o que que foi que eu fiz
Se eu fui perdendo o senso de realidade
Um sentimento indefinido
Foi me tomando ao cair da tarde
Infelizmente era felicidade
Claro que é muito gostoso
Claro que eu não acredito
Felicidade assim sem mais nem menos é muito esquisito

Não sei porque eu tô tão feliz
Preciso refletir um pouco e sair do barato
Não posso continuar assim feliz
Como se fosse um sentimento inato
Sem ter o menor motivo
Sem uma razão de fato
Ser feliz assim é meio chato
E as coisas nem vão muito bem
Perdi o dinheiro que eu tinha guardado
E pra completar depois disso
Eu fui despedido e estou desempregado
Amor que sempre foi meu forte
Não tenho tido muita sorte
Estou sozinho, sem saída, sem dinheiro e sem comida
E feliz da vida!!!

Não sei porque eu tô tão feliz
Vai ver que é pra esconder no fundo uma infelicidade
Pensei que fosse por aí, fiz todas terapias que tem na cidade
A conclusão veio depressa sem nenhuma novidade
O meu problema era felicidade
Não fiquei desesperado, não, fui até bem razoável
Felicidade quando é no começo ainda é controlável

Não sei o que foi que eu fiz
Pra merecer estar radiante de felicidade
Mais fácil ver o que não fiz
Fiz muito pouco aqui pra minha idade
Não me dediquei a nada
Tudo eu fiz pela metade, porque então tanta felicidade
E dizem que eu só penso em mim, que sou muito centrado
Que eu sou egoísta
Tem gente que põe meus defeitos em ordem alfabética
E faz uma lista
Por isso não se justifica tanto privilégio de felicidade
Independente dos deslizes dentre todos os felizes
Sou o mais feliz

Não sei porque eu tô tão feliz
E já nem sei se é necessário ter um bom motivo
A busca de uma razão me deu dor de cabeça, acabou comigo
Enfim, eu já tentei de tudo, enfim eu quis ser conseqüente
Mas desisti, vou ser feliz pra sempre
Peço a todos com licença, vamos liberar o pedaço
Felicidade assim desse tamanho
Só com muito espaço!

3 comentários:

  1. Não sei porque mas eu vejo o Ryan com outros olhos... talvez essa fosse mesmo a intenção de Spielberg.
    Afinal, não foi só o capitão John Miller e seus comparsas que deram a vida mor nós.
    A pergunta de Rayan no fim da carreira mostra sua gratidão e humildade: será que dei conta? será que fiz por merecer?

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  2. Fã do Grupo Rumo há anos - sou amigo de um de seus membros recentes, o Ricardo Breim - me empolgo com a inteligência, sutileza, humor e sensibilidade das suas músicas. Das 14 músicas inseridas no cd "Rumo ao Vivo", pelo menos 12 delas são jóias puras!!!

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  3. Linda letra e acrescento que na experiência pessoal, percebi que a felicidade pode não ser algo eterno, mas uma dama que aparece às vezes, inclusive em meio a crises e, mesmo sem poder, me sinto feliz.

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