2. UM LANCHE
Rufo acompanhava curioso e apreensivo a multidão esbaforida atrás dos passos rápidos e seguros do mestre. Ouvia todo tipo de afirmações e perguntas entre aquela gente repleta de dúvidas e convicções.
- É um profeta!
- Cura todos que se aproximam dele.
- Está cercado por um bando de perdedores.
O homem parou no pé de uma colina, à beira do grande lago, e fez sinal para que todos se sentassem. Seus seguidores, que pareciam tão perdidos quanto toda multidão, passaram a gritar e sinalizar para que todos parassem para descansar.
- Já não era sem tempo – gritou alguém ao lado de Rufo – o homem não cansa!
Quando estavam todos relativamente calmos, alguns ainda recobrando o fôlego, outros já inquietos, ansiosos pelo que ele iria fazer, o mestre levantou-se e subiu a colina em direção a uma laje de pedra que se destacava projetando-se poucos metros acima do solo. Subiu na laje, agachou-se, acocorado sobre os calcanhares, e fitou a multidão por longos minutos, passeando os olhos de um lado a outro do grande grupo que o seguira. A esta altura, todos já olhavam para ele, cochichando, perguntando, apontando, esperando sua reação.
Seu rosto estava contrito e os olhos pareciam encher-se de lágrimas. Conversou com alguns dos seus companheiros sem tirar o olho da multidão. Um deles caminhou na direção de Rufo.
- Menino, vi o cesto que você carrega, e vi que nele estão alguns pães e peixes. Jesus está com fome, assim como todos aqui. Entregue seu cesto ao mestre pra que ele veja o que temos pra toda essa gente.
Enquanto o homem falava - vim a saber bem depois que se tratava de André, irmão de Pedro - Rufo percebeu que Jesus olhava para ele fixamente. O olhar era profundo e marcante. Parecia transbordar compaixão dos seus olhos. Era impossível recusar entregar-lhe algo. O mestre devia ter fome. Pareceu mais sensato ao menino ficar sem comer e alimentar um homem muito mais importante que ele. Os segundos de exitação logo pareceram loucura para o rapaz.
- É claro. Entregue a ele. - e enquanto André levava sua comida, o profeta de Nazaré, de longe, lhe sorriu largamente.
Quando o alimento começou a ser distribuído, Rufo mal podia conter-se dentro de si. Queria explodir, queria gritar - meus pães e meus peixes! Vejam o que ele fez! - Suas mãos tremiam quando o mesmo André, com um sorriso abobalhado, lhe trouxe um cesto cheio:
- Sirva-se menino. Sirva-se à vontade. Veja no que seu lanchinho se transformou nas mãos de Jesus. Agradeça a sua mãe.
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