11 de março de 2010

Mar grande

Já fazia tempo que não entrava em um mar tão grande. Não que eu seja homem do mar, como Florentino da Mata, apesar do nome, mas o tamanho e a força das ondas em sequências infinitas me fizeram gosto e arrancaram de mim, além da respiração ofegante, lembranças doces, apesar do mar.

Das férias com os primos gaúchos, aliás, poderia escrever um livro digno de Tom Sawyer. Orgulho-me de pegar ondas sem prancha, no peito, no pêlo. Foi assim desde guri. Varávamos a arrebentação à nado, melhor se fosse em dia de ressaca, com a água puxando a gente mar adentro, como olhos de Capitu, vento forte, mar crespo, repuxo bruto e transversal. Entrávamos na linha da casa cinza para depois de duas ondas já perdermos a bendita de vista. Era raro o pé encontrar o chão. Boiávamos, nadávamos, arrastados pela água, à espera das grandes que nos roubariam o fôlego por quase uma eternidade. Avistada a escolhida, começava a busca calculada pelo ponto certo, pelo momento extado, quando pernas e braços sincronizavam movimentos obstinados e precisos até o corpo esguio e ereto deslizar oblíquo na parede de água. Os braços, então, fixavam-se firmes para trás, colados ao corpo, o peito inflava e a cabeça lançava-se para cima, olhos semicerrados protegendo-se dos respingos e o nariz como seta apontando a areia, até que, já no raso, a vaga abandonasse o corpo. Então tornávamos às ondas, eufóricos, ofegantes e incansáveis, durante toda tarde, até escurecer. Não sei onde meus pais estávam com a cabeça.

Saíamos da água ao poente, rosto ardido de sol e sal, caminhando pela areia como Netunos, torcendo pela próxima ressaca e pelo vento sul, que nos traria novamente as grandes.


Para Paulo e Ique, em memória a tudo que
passamos juntos no tempo em que éramos heróis.

3 comentários:

  1. è...a nadar eu não tenho tanto preparo, mas nas férias passadas, já velejei sozinho... eheheh vou melhorar...rs

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  2. É, a gente se divertia um bocado nas férias...

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