Foi só quando ouviu os primeiros estampidos de raios violentos e muito próximos que se dignou a parar o que fazia e olhar pela janela. E o vento veio metido a furacão. E as nuvens raivosas arremessavam pedras de gelo em quem quer que ousasse sair às ruas. E as telhas se erguiam dos telhados e jogavam-se suicidas para todo lado, e os galhos dobravam-se temerosos e partiam e se estatelavam sobre carros e telhados e ruas e calçadas. E num rompante de terror o vento perdeu o rumo e virou-se de um lado pro outro violento, como que querendo libertar-se de amarras, debatendo-se e derrubando placas e arrancando os enfeites de páscoa da rua XV. Relâmpagos estalavam feito loucos sem parar, e um deles, mais raivoso, estampiu certeiro sobre algum ponto de crucial importância para o fornecimento de energia da cidade. E tudo se apagou enquanto o céu desabava.
Meia hora depois restavam somente os pingos sarcásticos largando-se de mansinho dos beirais. E no fim da tarde o sol apareceu sorrindo e ainda brincou de colorir toda aquela bagunça de amarelo intenso e sussurrou nos ouvidos de todos: "Nada te turbe, pois tudo passa*". E encerrou o dia com uma beleza de fazer chorar.
*Nada te turbe, pois tudo passa: referência à Teresa D´Avila,
surrupiada da belíssima canção do Jorge Camargo.
Cara, tem dias que certas tragédias se abatem sobre nós como furacões mesmo. Ainda bem que "não há mal que sempre dure..."
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