Para ler e/ou ouvir.
Comove ouvir as ondas lambendo as areias
Céu branco da madrugada azulando imponente
O sol sorrateiro espiando o acordar da praia
Que descuidada e lenta espreguiça inocente
Chegou mais um dia
Gritou alguém
Amanhã mais um
Depois também
Porquê ainda comove a eterna rotina?
Que mistério é esse do encantamento?
O que haverá por trás do cotidiano
Que arranca beleza de dentro do eterno momento?
Não sei o que há
Gritou alguém
Mas é certo que há
Eu sei também
Se a onda, a areia e o sol são sempre os mesmos
Se é azul, todo azul, sempre azul o céu que tu vês
Se a praia desperta de novo repetidamente
Porquê comove-nos tanto ver tudo outra vez?
É a saudade
Gritou alguém
Do instante perfeito
Que nos contém
E o que nos revela a beleza daquele momento
É que o instante perfeito corrompe a dureza do tempo
Perfeita mistura do dia passado e presente
Converte em beleza aquilo que foi sofrimento
Me revela
Gritou alguém
Tamanha beleza
A mim também
Se insisto (e insistimos todos) diariamente
Em rever, reviver, renascer, fazer tudo de novo
E se no exercício diário do refazimento
Encontramos de novo e de novo o encantamento
É que cremos
Gritou alguém
Que o instante é eterno
Pra sempre, amém
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Escrito na areia da praia de Cabeçudas, em janeiro de 2023. Era 6h da manhã, um homem chegou ao meu lado, olhou o sol nascendo e disse: chegou mais um dia!
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