12 de agosto de 2023

Jesus, os oprimidos e os LGBT+


O evento era essencialmente contra a LGBTfobia, mas também contra todo tipo de violência social, por um mundo mais tolerante e diverso. Foi bonito, foi pacífico, foi festivo. Estávamos lá como Coletivo O Amor Vence, um coletivo cristão progressista. Estávamos lá também porque de alguma forma fomos o estopim de tudo. Quando, algumas semanas atrás, nos dispusemos a participar do Piquenique das Mães do Amor, a nossa presença foi, possivelmente, fator importantíssimo para a revolta insana de religiosos fundamentalistas ultraconservadores produzindo e distribuindo folhetos que enviavam os LGBTs todos ao inferno, nomeando-os de "filhes do diabo" e a mim de "falso profeta".

Na manifestação do dia 5, falei de novo. Um pedaço do que disse tá no vídeo desse post. O texto todo, resumido, está abaixo:

Estar na manifestação me remeteu a estar numa das muvucas criadas pelo amontoado de gente em torno de Jesus na Palestina de 2 mil anos atrás. Porque, lá como cá, o povo que se reuniu era gente periférica, vítima de injustiça, de violência, de intolerância, de preconceito. Por isso na sua primeira fala pública Jesus deixa claro a que veio e para quem veio, citando Isaías: “dar liberdade aos oprimidos e anunciar o tempo da graça”. Dar liberdade aos oprimidos não combina com condená-los ao inferno. 

Mas nem só de oprimidos se faz uma multidão. Havia também, lá como cá, os religiosos carolas, fundamentalistas, legalistas, moralistas, que do meio da multidão observavam atentos não suportando o clamor por libertação. Queriam manter as correntes firmes. Lá como cá, eram gente disposta a escrever folhetos condenando os oprimidos ao inferno. Os de lá mataram Jesus. Os de cá o matariam se pudessem.

Eram, portanto, dois grupos os que compunham a multidão. Jesus falava com ambos. Quando falava aos religiosos, usava palavras como “ai de vocês, mentirosos, impostores, falsos, hipócritas, raça de víboras, sepulcros caiados (bonitinhos por fora, por dentro podres)”. E não tinha muito mais a dizer-lhes. Quando falava com os oprimidos, dizia coisas como “felizes são vocês que choram, porque serão consolados! Felizes vocês que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem aventurados vocês que são perseguidos por causa da justiça (por lutarem por um mundo mais justo), porque é de vocês o Reino dos Céus”. Porque o Reino do Céu só pode nascer num ambiente assim, de gente que se junta em busca de um mundo mais justo para todos. No outro lado, o de gente que se acha especial e que busca um mundo melhor pra si onde não existe espaço pra quem é diferente, não há possibilidade de Reino de Deus.

Aprendi, anos atrás, que a igreja sinalizava o Reino. Descobri, mais recentemente, que o Reino é que sinaliza a Igreja. Onde há manifestação do Reino, ali está a igreja. Onde há manifestação de raiva, de condenação, de preconceito, de supremacismo, ali há trevas, e que trevas profundas são.

"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" Lucas 4:18,19




'Mãe'nifestação pela diversidade. Blumenau 5/8/23.

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Mais sobre o assunto aqui e aqui.

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