6 de agosto de 2007

Stellinha e Gaya

A imagem na memória é de uma figura esguia, ombros altos mas mirrados, com a coluna arcada e cabelo desgrenhado. Devia ter pouco mais de 60 anos. As longas entradas na testa davam ares de intelectual e estava sempre envolto em uma pequena nuvem de fumaça do cigarro que não apagava nunca. Lembro dele nas peladas do grande Pobreza F. C., no curto período em que ele participou das batalhas futebolescas. Ia de carona com a gente. No campo, chamava a atenção pelas canelas finas e a idade avançada no meio do pessoal. Lembro também das longas partidas de xadrez entre ele e meu avô e da voz rouca, soltando fumaça junto com as palavras. Meu avô eventualmente comentava sobre suas convicções comunistas. Era uma figura estranha no meu imaginário infantil.

Stellinha e Gaya
Gaya, à esquerda, com a Stellinha.

Sei que quando ficou doente, a tia Stellinha não saia do seu lado. Permaneceu com ele durante todo seu sofrimento. Depois que ele partiu, ela passou a organizar o que pretendia que se tornasse o “Museu do Gaya”. Foram muitas e muitas tardes que passou enfurnada no meio de um mundo de coisas, entre discos, roupas, cenários, equipamentos de som, partituras e manuscritos. Nessa época meu irmão a acompanhava e ajudava no complexo trabalho de organizar e catalogar todo aquele pequeno mundo.

Nesses últimos tempos, da doença e do museu, é que ficou claro o quanto a vida de um estava misturada com a do outro.

"Sempre foi assim. Quando se falava em Gaya, falava-se em Stellinha. Quando se falava em Stellinha, falava-se em Gaya. Nunca foi, nem poderia ser de outra forma" – dizia minha tia famosa.


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A Grande Valsa Brasileira
Gaya e sua Orquestra de cordas

Composições para orquestra, escritas pelo maestro Gaya para repertório de doze músicas.




1. Velho Realejo (Custodio Mesquita e Sady Cabral)
2. Boa Noite Amor (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso)
3. Branca (Zequinha de Abreu)
4. Deusa da Minha Rua (Jorge Faraj e Newton Teixeira)
5. Última Inspiração (Peter Pan)
6. Ave Maria (Erothides de Campos)
7. Saudades de Matão (Jorge Galatti e Raul Torres)
8. Meu Último Luar (Waldemar Henrique)
9. Mimi (Uriel Lourival)
10. Flôr do Mal (Santos Coelho e João Portaro)
11. Volta para o Meu Amor (Joubert de Carvalho e Tostes Malta)
12. Lágrimas de Virgem (Luiz Americano)


Para saber mais:

Histórias e músicas da Stellinha EggStellinha e Gaya – Uma história de amor
Gaya. O homem que sabia dos ritmos

2 comentários:

  1. Tuco querido que depoimento fantástico! Muito obrigado por manter viva esta memória! Obrigado também pelo audio desse disco que também é maravilhoso!!! Voce tem a capa? cara obrigadão!

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  2. Infelismente a capa se perdeu. Encontrei esse disco embrulhado em papel manteiga.

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