31 de maio de 2010

Artrite [3]

A noite gelada e úmida foi pesada demais para Ramon. Acordou tossindo forte e cuspindo grosso. Os meninos já haviam ido e Ramon percebeu que estava novamente molhado de urina que não era sua. Seus cobertores e caixas de papelão tinham sido jogados no chafariz e o frio era tanto que não teve coragem, nem ânimo, de se lavar. Caminhou tossindo até o bar que acabava de abrir as portas e atendia algumas prostitutas que encerravam sua noite de trabalho com café quente. Uma delas, que tomava café ali todas as manhãs, pagou um pingado para o maltrapilho, e um pão quente com manteiga.

Sentado na calçada com as costas apoiadas na parede do bar, braços apoiados nos joelhos, segurando o pão e o café, Ramon percebeu que a estátua sisuda no centro da praça estava diferente. Trazia agora o braço, antes estendido, dobrado e colado ao corpo, com a mão segurando suavemente o maxilar inferior, e os olhos voltados para o chão.

Ramon passou alguns dias em um albergue para recuperar-se da noite molhada. Quando retornou à velha praça, estranhou a ausência da estátua. Nos dias seguintes começou a ouvir, circulando entre os moradores de rua, histórias incríveis de um homem misterioso que começou a aparecer nas madrugadas sem falar nada, aquecendo mendigos, indigentes, bêbados, noiados, prostitutas e travestis com o calor do próprio corpo.

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ARTRITE:
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2 comentários:

  1. o amor da prostituta se compadecendo com ele... lindo isso...

    evandro

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  2. Olá, Tuco. Segue abaixo meu comentário sobre o seu.

    "Bom. Acho que o 'céu' vai estar bem mais cheio de não cristãos do estilo Gandhi do que de cristãos
    do estilo "teologia da prosperidade"

    Em primeiro lugar devemos deixar bem claro que Gandhi não era cristão, nem ao menos se considerava cristão. Quando muito um admirador.
    Concordo com você que se pudéssemos escolher entre Gandhi e os vendedores da T.P. (teologia da prosperidade) para entrar no céu, certamente optaríamos pelo Gandhi.
    Mas o fato que o texto (que não é de minha autoria) quer ressaltar é que boas obras não nos levam a Cristo. Imitar os feitos humanos (amor, paciencia, carinho) de Jesus não é garantia alguma de ser considerado filho de Deus. A bíblia em momento algum nos estimula a sermos como Cristo, porque aí desse jeito nós seremos seus filhos. Ela diz o inverso; primeiro sejam filhos, e somente assim vocês conseguirão cumprir (no real sentido) a vontade de Deus. Filho primeiro, depois a prática.

    "'Se ser cristão é imitar a Cristo, vamos terminar logicamente no ecumenismo com todas as religiões.'
    E daí? Anunciamos uma religião ou uma pessoa?"

    Com toda a certeza anunciamos uma pessoa, mas essa pessoa nos deu diretrizes pelas quais devemos nos guiar. É muito mais simples e prático dizermos que todos os que fazem aquilo que Jesus pede (ex. amar o próximo) são cristão. Como disse, o caminho é inverso; primeiro ser filho, depois seguir. O ecumenismo é amplamente combatido por Paulo, João e tantos outros escritores das Escrituras. A frase que diz "Deus é amor", deve ser entendida como um Deus que ama seus filhos e todos aqueles que andam segundos os seus preceitos, e não como sendo um Deus amoroso que tolera qualquer um que queira se parecer com Cristo. A bíblia abomina o ecumenismo, caso contrário, que mal teria o povo permanecer na Babilônia e andar lado a lado com o povo idólatra? Não estariam todos louvando a Deus, cada qual do seu jeito?

    "Se o cara tá imitando Cristo, meu irmão, é porque Cristo tá com ele,
    saiba ele disso ou não. Saibamos nós disso ou não. Não dá pra imitar sem estar imerso em seu espírito."

    A "tabela" para checarmos se alguém é ou não cristão, reside nos frutos do Espírito naquela pessoa. Obviamente que quando alguém segue piedosamente e vive de fato uma vida cristã genuína, podemos afirmar que esta era verdadeiramente uma discípula de Cristo. Contudo, devemos tomar cuidado para nos caírmos no engano de acharmos que todos assim o são. A bíblia relata o que? Lobos em forma de cordeiro, não é isso? A Bíblia não fala de lobos que tem forma de lobos e que mesmo assim enganam; pelo contrário, lobos em forma de cordeiros, pois só assim conseguem enganar e ficarem parecidos com o real cordeiro.

    Eu posso muito bem me trajar de muçulmano, decorar o Alcorão, ir às reuniões, praticar as orações e não ser um muçulmano de fato! A qualidade de imitador de Cristo não transfere ao mesmo o título de "filho de Deus." Assim como não sou muçulmano apenas por usar e praticar exteriormente as tradições da mesma, o imitador de Cristo não é cristão apenas por o imitar.

    É necessário que aprendamos a não sermos exclusivístas, mas também devemos ter todo o cuidado para não caírmos no inclusivismo, que traz para sua "comunidade" todo aquele que se parece conosco.

    Um abraço!

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