27 de junho de 2011

Insustentável

Quem é que gosta de crise? Eu não, que não sou besta. Mas gosto do meu planetinha. Sou metido a ecologistazinho. Não jogo nada no chão. Consumo relativamente pouco. Reciclo. Meu lixo orgânico, ao invés de ir pro aterro, vira adubo. Coisas assim. Mas se falarem em crise, tremo na base. Ai meu emprego. Ai meu sossego.

Sou, como você, escravo do paradigma do capital, da máxima do consumo. Só sobreviveremos se crescermos. E crescimento é produção, é PIB, é consumo, é mercado girando, é comércio bombando. Bombando feito bomba relógio.

O máximo que consigo desejar é um "desenvolvimento sustentável". Mesmo sabendo que, como afirmou Viveiros de Castro, isso é conversa pra boi dormir:
“A noção tão louvada de “desenvolvimento sustentável” — não se pode negar as boas intenções de quase todos que a formularam e defendem — é, no fundo, apenas um modo de tornar sustentável a noção de desenvolvimento, a qual já deveria ter ido para a usina de reciclagem das idéias. Ela é uma contradição em termos. Não existe desenvolvimento capitalista sustentável; e, salvo engano, a imensa maioria dos defensores do desenvolvimento sustentável não imagina uma alternativa ao capitalismo.“
E cá estamos nós, à mercê do capitalismo, tentando sustentar a noção de desenvolvimento que nos consome, como um louva-deus compondo poemas à sua amada enquanto é devorado por ela durante o acasalamento. Sustentamos o absurdo argumento de que, para o mundo não implodir é preciso consumir.

“O desenvolvimento é sempre suposto ser uma necessidade antropológica, exatamente porque ele supõe uma antropologia da necessidade (idem).

A Europa e os EUA encolhem apavorados. O Brasil cresce à revelia da crise e cantarolando, cheio de si, na expectativa de ocupar em breve o merecido lugar entre os grandes. E, como sempre fizemos, vamos indo lentamente pro beleléu enquanto fazemos festa. O código florestal que se explôda, é o que nos diz confiante a bancada ruralista, e as matérias da Veja. É hora de crescer.

Quem é que vai ter coragem, diante de uma chance como essa, com os olhos brilhosos cobiçando o anel do poder, de abrir mão de tudo e abraçar uma outra lógica?
“[Precisamos da] improdução como meta, a involução intensiva como projeto coletivo de vida. Contra o mundo do “tudo é necessário, nada é suficiente”, e a favor de um mundo onde “muito pouco é necessário, quase tudo é suficiente”. Quem sabe assim tenhamos um mundo a deixar para nossos filhos (idem).”


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O Rondinelly tuitou a dica e fui conferir
o
texto preciso do Eduardo Viveiros de Castro.
Me vi forçado a escrever sobre o assunto,
e acabei lembrando de uns outros textos relacionados:
- Teologia de Balú
- Contexto
- Nossa única esperança de redenção
- Gafanhotos

4 comentários:

  1. E cade a igreja de Cristo com aquele papo de não se conformar com o mundo? Cade o posicionamento dos Cristaos?

    Dá medo ser seguidor de Cristo e surfar outra onda.

    Evandro L! Melo

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  2. Anônimo9:08 PM

    Suicídio coletivo em prol da natureza?

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  3. Suicídio coletivo seria uma boa alternativa. Mas um pouco menos de ganância, uma vidinha mais simplezinha, já ajuda.

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  4. Improdução como meta; involução intensiva como projeto de vida...
    Isso não lembra coisas do tipo "olhai os lírios...", "observem as aves...", "é necessário que eu diminua...", "quem perder sua vida..." ? ? ? ?
    Que coisa, não?

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