10 de outubro de 2013

Vento sul


Quando trabalhava como office boy numa imobiliára na Carlos de Carvalho, entre um e outro banco parava para ouvir o Viento Sur no calçadão da Boca Maldita. Ouvia até chegar à clássica Guantanamera, quando um dos integrantes do grupo começava a passar o chapéu sem parar de cantar. Comprei todos os seus cassetes e escutei até gastar. Ouvir aquele coro de 5 vozes cantando El Condor Pasa na correria da rua XV era como ser transportado para algum ponto distante da América Andina e lá desfrutar do vento gelado que desce do alto da cordilheira.

E agora, quase 20 anos depois, os encontro por acaso nesse mundo virtual e, inevitavelmente, lembro de tudo como ontem. Lembro das jarras de suco que tomei nos dias quentes, no boteco ao lado do Cine Plaza. Das vezes que fugi correndo da piazada de rua, pela Jesuino Marcondes ou pela Comendador Araújo, com os bolsos cheio da grana que fui trocar para o Osni naquele doleiro do edifício Asa. Do Fliperama que tinha em frente ao Bradesco e das fichas que encontrei no chão. Do cobrador do Detran-Vicente Machado, que me viu esquecer um envelope da imobiliária cheio de dinheiro e o guardou para mim, e da bronca que levei quando, no dia seguinte (porque eu pegava aquele ônibus todos os dias), ele me devolveu o envelope. E da alegria que me deu. Dos maços de cigarros que comprava para Sônia na banca da Praça da Espanha. Dos picolés que ela algumas vezes me pagou em gratidão. Do corpo mole do Mola, o outro office boy que enrolava enquanto eu trabalhava. Do Eduardo, meu professor de física na sétima e oitava séries, que encontrei hippie vendendo artesanato na praça Zacarias.

Mas de todas as lembranças dessa rotina do meu primeiro emprego, nenhuma se compara ao som suave e latino do Viento Sur soprando para longe o barulhento frenesi do centro urbano e comercial da capital paranaense, sussurrando para mim, sem que me desse conta, que há um outro caminho. É possível que tenha sido deles o som original que é hoje o eco dentro de mim, sussurrando sempre a mesma coisa.

No teatro da UFPR, quando eu já havia deixado o planalto araucano.



Em 1993, quando eu ainda caminhava todos os dias pelo centro de Curitiba.

10 comentários:

  1. Caracas velho !!! Desenterrou hein ??? Hehehehe ... algumas histórias parecidas !!! Outro dia ... passando pela XV ouvi alguns sons dos anos 90 (na memória) e é claro ... O Viento Sur me passou pela mente !!!

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    1. Belíssimas lembranças, mano. Abraço.

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  2. Boas lembranças! Acho que tenho em algum lugar um CD do Viento Sur, que comprei numa dessas caminhadas despretensiosas pela XV muito tempo atrás. Vou ver se desenterro.

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    1. Se encontrar me mande uma cópia Alvaro, por favor. Valeu.

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  3. esses caras me lembram o Grupo Tarancón, cantando promessas de sol, boquita de cereza, que maneira de amar, entre tantas outras. belíssimo.

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  4. aiiii que saudades dos sucos ao lado do Cine Plaza na companhia do meu futuro e eterno namorado... <3

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    1. Era emocionante tomar um suquinho com vc. ;)

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  5. Esses sucos que vcs falaram acaso era um lugar chamado "Espremidinho"?... se for esse eu gostava muito!.. também curtí muito (e ainda curto) esse grupo e todo grupo de música latina que conhecí.. Tarancón, Raíces de América.. Lindo o texto, me fez voltar no tempo, muitas lembranças em comum!..

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  6. Perfeitamente Loide. Tentei puxar o nome do lugar na memória e não encontrei nada. Mas é esse mesmo. Valeu!

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  7. A gente ia muito lá, eles faziam umas misturas de frutas com nomes originais, e os sucos eram muito bons!.. prazer te encontrar, caçulinha dos meus amigos, ex-aluno do meu marido, segundo ele, voce e seus irmãos foram bons alunos!! um abraço..

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