A idéia de “amor ao trabalho” é filha da sociedade pós-industrial e capitalista. É antídoto fantasioso para um sistema de trabalho baseado na ideologia do consumo e, portanto, em um eficiente, inclemente e incansável sistema de produção. Se tudo fica melhor quanto
maior o consumo, tudo fica melhor quanto maior a produção ou, em outras palavras, quanto mais tempo e dedicação sejam gastos no trabalho. Segundo essa ideologia, para alcançar o sucesso será preciso passar muito mais que as já cruéis 8h por dia trabalhando, enfrentar muitas horas de
trânsito, sempre calçando um sapato sofisticado, duro e apertado, além de marcar reuniões motivacionais no sábado e atender ao chamado urgente daquele cliente poderoso no domingo. A única alternativa que resta para tentar manter um mínimo de sanidade nesse delírio, é enganar a si mesmo fazendo-se crer que ama essa loucura toda. Daí que nascem os bordões, os mantras dos livros de auto-ajuda, das convenções de fim de ano, das reuniões de planejamento e vendas. É crer nisso ou cortar os pulsos. Amar o trabalho é a última esperança do homem urbano.
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Resta, como sempre, uma outra alternativa. Será obviamente preciso uma boa dose de coragem e disposição para remar contra a maré e arcar com as conseqüências.
Abrir mão do sucesso precisará ser o primeiro passo do bravo homem que decidir arrancar a venda dos olhos. E será fundamental manter-se forte o suficiente para viver com menos, talvez muito menos. Os demais passos serão todos profundamente circunstanciais. Só será preciso manter em mente a frase – eu não amo meu trabalho, portanto posso e devo trabalhar menos, muito menos... o mínimo indispensável.
A esperança é que, com isso bem claro na mente, ainda seja possível desfrutar alegremente de longas horas com coisinhas banais como esposa e filhos. Quem sabe até com o vizinho, aquela tia doente que você não vê há anos, seu amigo depressivo ou aquele outro eufórico demais. Talvez seja possível visitar algumas pessoas e, levando um pacote de pão, compartilhar café e um bom papo.
Quem sabe até seja possível amar alguém e não algo.
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Veja também:
De uns tempos pra cá
A vaquinha e a mansão
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHehehe ... como os pensamentos se cruzam ... "Tempo pra perder" disse isso ... Mas de maneira bem melhor explorada "Que fique bem claro" disse mais ... pela boca deste "Mestre Croniqueiro" - Tuco ...
ResponderExcluirMeu amigo, um grande abraç(o_____ virtual ... passei por Blu e naum TIVE TEMPO de apertar sua mão e lhe dar um quebra costela neste fim de semana !!! Eh a vida !!!
Wow! Legal o texto, realmente faz refletir, me lembrou o Ócio Criativo (que ainda nao terminei de ler :S)! Falows!!!
ResponderExcluirEscapei disso há muito tempo, era jovem ainda - 30, 40 anos atrás. Percebi que não devemos "amar o trabalho", devemos fazer o que amamos.
ResponderExcluirLógico que tal noção não me impediu de trabalhar bastante, vez em quando, mas nunca o fiz pelo dinheiro - e pelo que poderia almejar com ele - ou por ser "um trabalhador".
O trabalho NÃO dignifica o homem. O amar as pessoas, sim.
É verdade Marcio. Tudo a ver com seu telefone cinza de disco.
ResponderExcluirErrado. É uma honra encontrar vc por aqui. Valeu.
Rubinho. Não amar o trabalho até que é razoavelmente fácil pra mim. Duro é amar as pessoas, e com aquele amor prático, amor que 'trabalha'. Sigo tentando.
Dureza é pensar assim, falar disso a toda hora e nunca conseguir saltar fora dessa roda-vida disgramada...
ResponderExcluirO correto para um cristão dizer seria:
ResponderExcluirnão amo meu trabalho, amo as pessoas com quem trabalho.
Mas como tudo isso é uma balela fiquemos só com a primeira parte, que de uma forma geral não nega o sentimento das massas, que odeia seu trabalho, salvo engano.