Uma história real
Não ajuntem tesouros na terra...
Ela ganhava a vida vendendo artesanato na rua. Fazia e vendia o que precisava para comer e dormir, um dia depois do outro. Juntava o pouco que sobrava até conseguir comprar uma passagem para outra cidade. E ia. Todos os seus bens, suas posses, roupas e objetos pessoais cabiam dentro de uma bolsa surrada que ela carregava nas costas.
Vocês não podem servir a Deus e às riquezas...
Foi enquanto ela andava por uma calçada do bairro das Mercês em Curitiba que eles se encontraram. Ele no intervalo do almoço, indo a um restaurante. Ela com seus artesanatos, num intervalo da vida. Ela ofereceu suas peças ao rapaz, que não se interessou.
– Moço, você sabe onde eu posso almoçar barato por aqui?
– Estou indo no restaurante mais em conta da região. Come-se bem por R$ 7,00.
– É muito pra mim moço. Não tem outro?
Não tinha. Mas o rapaz se ofereceu para pagar o almoço da andarilha.
– Se você quer me ajudar, compre algo de mim, que aí tenho dinheiro pra almoçar.
Comprou. E foram juntos ao restaurante. A moça, com um vestido simples e surrado, se sentiu constrangida na porta do estabelecimento, mas acompanhou o rapaz, por insistência dele. Serviram-se no buffet, sentaram-se e começaram a incrível conversa. Entre uma e outra pergunta, a mulher contou a impressionante história da sua vida.
Não andem ansiosos com o que terão para comer, beber ou vestir...
– Vivo assim moço. Não junto pra mim nada além do necessário para hoje. Minhas economias são somente pra me levar a um próximo lugar. Nada mais. Em cada cidade que chego, procuro logo a região mais pobre, mais carente, mais desamparada, e ali eu fico. Conheço as pessoas, converso, ouço, convivo. E logo começo a juntar alguns para ensinar. Ensino artesanato pra que tenham renda. Ensino a ler e escrever, crianças e adultos. Em alguns lugares consigo ajuda para montar oficinas onde ensinamos coisas que possam ser úteis pra quem mora ali. Depois de um tempo, junto novamente algum dinheiro e vou pra outro lugar. Tenho ido bastante pra Maringá, pras aulas de pedagogia na faculdade (!). Mas só assisto o que interessa. Porque não quero diploma não. O que quero é poder ajudar ainda mais quem precisa.
Olhem para as aves do céu... para os lírios do campo...
Confuso e extasiado, o rapaz pensava – quem é essa mulher? De onde vem essa bondade, esse compromisso com o próximo, esse desapego material? – Não resistiu a pergunta mais óbvia:
– Você faz isso por quê? Deus tem alguma coisa a ver com sua motivação?
– Ih, moço, eu tenho uma fé danada – ela respondeu, enquanto se abaixava buscando alguma coisa dentro de sua bolsa. Quando achou, esboçou um leve sorriso e encheu-se de confiança. Deitou sobre a mesa uma bíblia que parecia ter saído de uma centrífuga de roupas.
– Minha motivação vem daqui. Das histórias de Jesus. Do que ele fez e ensinou. Do exemplo que deu. E eu não estou falando de igreja não. Nem de religião. Porque nessas igrejas que têm por aí, o pessoal diz que segue Jesus, mas eles não entenderam nada do que ele ensinou. Jesus andava no meio do povo, ensinando e ajudando as pessoas. Eu faço o que ele disse, sigo seus passos de verdade, porque foi isso que ele pediu, nada mais.
Sempre que o fizeram a um destes pequeninos, fizeram a mim...
O moço, que passou toda sua vida nas referidas igrejas, diligentemente envolvido nos programas, eventos, corais, grupos de crianças, adolescentes e jovens, fazendo cartazes e folhetos, suando e correndo para que tudo corresse perfeitamente, ficou envergonhado.
Sempre que deixaram de fazer a um destes pequeninos, deixaram de o fazer a mim...
Depois do almoço cada um seguiu seu caminho. Ela saiu de Curitiba no dia seguinte do encontro, indo pra outra cidade, seguindo os passos de Jesus. Ele ficou pra trás. Assim como eu.
_______________________________________________________________
A andarilha e o rapaz existem e o fato aconteceu em Curitiba, em janeiro de 2007.
27 de abril de 2007
26 de abril de 2007
Muros e pontes
A partir do século XV, com o Renascimento, a razão passou a ser a única forma de alcançarmos a Verdade. Esse pensamento foi assimilado pela igreja, e foi nesses moldes que desenvolvemos as teologias modernas. Abraçamos a fé pela razão e racionalizamos seu conteúdo. Criamos normas, nos separamos em grupos distintos, desenvolvemos nossas confissões de fé e moldamos nossa vida cristã a elas. Tudo fundamentado em um “racionalismo cristão”.
As conclusões a que chegamos são sempre menores do que as provocações de Jesus.
Essa forma de encarar a espiritualidade não condiz com a forma como Jesus a encarou, viveu e ensinou. Em Mateus 5, Jesus desmonta a racionalização da lei, e a coloca em uma outra esfera, não racionalizável, não descritiva, não sistematizada e indigesta. O grande perigo da racionalização é que ela deseja ser conclusiva e universal. Mas as conclusões a que chegamos são sempre menores do que as provocações de Jesus. Assim, nivelamos nossa vida por esse padrão menor, e nos sentimos satisfeitos – dever cumprido. Ora, nossas conclusões podem até ser boas, mas quando nos habituamos a elas e nos satisfazemos com elas, iniciamos nossa ruína. E como se não bastasse, universalizamos essas conclusões e a aplicamos a toda e qualquer situação. Do conforto de nossas cadeiras ergonômicas, julgamos o mundo pelas nossas convicções. Julgamos a todos baseados na nossa percepção do mundo, e condenamos a todos, menos a nós mesmos.
Jesus mostrou que a lei de Deus não reside na razão, mas no tempo. Não pode ser descrita em documentos eclesiais, mas deve ser vivida em relacionamentos. Ainda que Deus possa ser considerado absoluto (e por conseqüência sua vontade também seja), a aplicação prática desse absoluto na realidade deformada da nossa existência não pode ser absolutizada.
Cosmovisão e “os outros”
A forma mais clara de observar essa questão é diante do choque do Evangelho, tal como o concebemos em nossa realidade ocidental, com culturas diversas. São vários os exemplos dentro da realidade das “missões transculturais” que mostram de forma clara a dificuldade de categorizarmos os ensinamentos bíblicos em moldes universais. A tendência da igreja é acreditar ou, pelo menos, agir como se a Verdade estivesse nela e não em Cristo. A partir desse pensamento a pregação da igreja é ela mesma, suas normas, seus dogmas, suas conclusões. E a conversão acontece quando alguém abraça esses preceitos racionais e conclusivos. Ora, como a razão nos pertence (agimos como se pertencesse), cremos, ainda que desapercebidamente, que temos em nós algo que nos faz melhores que os “outros”. Esse pensamento acontece dentro e fora da igreja e é a origem das hierarquias e classes sociais, dos conflitos de grupos, das guerras, das disputas de poder, da dicotomia clero/laico e de muitos outros problemas humanos.
O Evangelho, no entanto, despedaça os degraus que nos colocam em diferentes níveis. Nem Jesus considerou que o que ele era, era algo a que deveria apegar-se (Fp 2:6-7). E ele sugere ainda que nem mesmo a diferença entre salvos e perdidos é algo assim tão claro como queremos crer, quando faz parecer que nem um nem outro terão necessariamente consciência de sua condição diante do Filho do Homem (Mt 25:37;44).
Oficial X Popular
Tanto a racionalização como a percepção do “outro” são responsáveis pela divisão clara que se estabelece em todas as esferas do comportamento humano entre o oficial e o popular. O pensamento racional e sistemático é insuficiente para permear as questões práticas de nossas vidas. A resposta para nossas necessidades existenciais não provém da razão, mas da experiência. Com a polarização natural entre eu e o outro, as questões de nossa espiritualidade tendem também a polarizar-se entre o oficial e o popular. O conteúdo do oficial é ordenado pela razão, pela classe culta, pela teologia. Mas esse conteúdo é impessoal e distante das necessidades humanas. O resultado é que o popular concorda com o oficial, mas vive um experimentalismo prático e funcional independente do aval do conteúdo ‘aprovado’. Ora, entre um e outro, não existe o certo e o errado. Ambos acertam, ambos erram. A dificuldade aqui, a meu ver, reside em duas questões centrais.
1. Outro. Como já comentado, a percepção do outro como alguém que não trilha o caminho correto (que é, evidentemente, o meu caminho) é crucial. Desprezar o experimento em favor da razão é tão absurdo quanto o contrário. O nivelamento do outro diante de mim é o primeiro passo para que haja uma ponte entre os dois extremos. E a motivação não pode ser fazer com que o outro suba alguns degraus até o meu nível, mas que eu suba alguns degraus até o nível do outro, considerando-o, assim, superior a mim mesmo. Esse nivelamento é a base sobre a qual deve se construir o restante da ponte.
2. O sacerdócio é universal. Creio que o princípio da dicotomia “oficial x popular” são as dicotomias “clero x leigo” e “sacro x profano”. A forma como a igreja trabalha hoje é extremamente arraigada em uma diferenciação entre o que ministra a palavra e o que a recebe. Ser ordenado como pastor (ou presbítero, ou ministro de louvor...) significa, invariavelmente, deixar de pertencer ao grupo dos humanos e adentrar em uma nova casta. E nós cremos que, de alguma forma, dependemos dessa casta para desenvolver nossa espiritualidade. Em alguns grupos, essa casta está sobre constante análise, debaixo de constantes expectativas e julgamentos. Em outros, a casta tem em si aura de santidade. Suas palavras são sopros divinos, seus sonhos, sonhos de Deus, suas loucuras, visões proféticas. Mas em ambos os grupos, existe um mediador entre homens e Deus. Alguém responsável pela minha espiritualidade, pelo meu crescimento, pelo meu relacionamento com Deus. Da mesma forma, cremos que Deus só dá o ar da sua graça na igreja, e desprezamos pessoas e culturas ‘externas’. Criamos o universo cristão, e damos a ele ares de santidade simplesmente pelo título que carrega. Da mesma forma, condenamos à perdição manifestações da graça e da beleza de Deus, unicamente por não carregarem em si o título salvífico de “cristão”.
***
Tenho a impressão que, para construir uma ponte sólida que una o oficial e o popular, temos que demolir o muro entre clero e leigo, entre sacro e profano, entre eu e outro. Viver nossas vidas de igual pra igual com todos os que estão ao nosso redor, seja dentro da “igreja” ou fora dela. Assumir a responsabilidade de nossa espiritualidade para nós mesmos. Desmamar. Andar pelas próprias pernas.
Mas isso só será possível se aqueles que hoje são os “responsáveis” pela nossa espiritualidade abrirem mão dessa responsabilidade. Abrirem mão do poder que têm, e que seduz, de gerir almas. O povo deve ser ensinado que não há ofícios que exijam a presença de alguém ordenado para que possam ser sacramentados. O sacerdócio é universal.
É possível que, diante de uma situação como essa, muitos dentre o povo queiram abandonar as fileiras. Porque o que se quer é o mimo, o colo, a papinha. Mas eu creio que enquanto esse muro estiver entre nós, as pontes não poderão se erguer.
As conclusões a que chegamos são sempre menores do que as provocações de Jesus.
Essa forma de encarar a espiritualidade não condiz com a forma como Jesus a encarou, viveu e ensinou. Em Mateus 5, Jesus desmonta a racionalização da lei, e a coloca em uma outra esfera, não racionalizável, não descritiva, não sistematizada e indigesta. O grande perigo da racionalização é que ela deseja ser conclusiva e universal. Mas as conclusões a que chegamos são sempre menores do que as provocações de Jesus. Assim, nivelamos nossa vida por esse padrão menor, e nos sentimos satisfeitos – dever cumprido. Ora, nossas conclusões podem até ser boas, mas quando nos habituamos a elas e nos satisfazemos com elas, iniciamos nossa ruína. E como se não bastasse, universalizamos essas conclusões e a aplicamos a toda e qualquer situação. Do conforto de nossas cadeiras ergonômicas, julgamos o mundo pelas nossas convicções. Julgamos a todos baseados na nossa percepção do mundo, e condenamos a todos, menos a nós mesmos.
Jesus mostrou que a lei de Deus não reside na razão, mas no tempo. Não pode ser descrita em documentos eclesiais, mas deve ser vivida em relacionamentos. Ainda que Deus possa ser considerado absoluto (e por conseqüência sua vontade também seja), a aplicação prática desse absoluto na realidade deformada da nossa existência não pode ser absolutizada.
Cosmovisão e “os outros”
A forma mais clara de observar essa questão é diante do choque do Evangelho, tal como o concebemos em nossa realidade ocidental, com culturas diversas. São vários os exemplos dentro da realidade das “missões transculturais” que mostram de forma clara a dificuldade de categorizarmos os ensinamentos bíblicos em moldes universais. A tendência da igreja é acreditar ou, pelo menos, agir como se a Verdade estivesse nela e não em Cristo. A partir desse pensamento a pregação da igreja é ela mesma, suas normas, seus dogmas, suas conclusões. E a conversão acontece quando alguém abraça esses preceitos racionais e conclusivos. Ora, como a razão nos pertence (agimos como se pertencesse), cremos, ainda que desapercebidamente, que temos em nós algo que nos faz melhores que os “outros”. Esse pensamento acontece dentro e fora da igreja e é a origem das hierarquias e classes sociais, dos conflitos de grupos, das guerras, das disputas de poder, da dicotomia clero/laico e de muitos outros problemas humanos.
O Evangelho, no entanto, despedaça os degraus que nos colocam em diferentes níveis. Nem Jesus considerou que o que ele era, era algo a que deveria apegar-se (Fp 2:6-7). E ele sugere ainda que nem mesmo a diferença entre salvos e perdidos é algo assim tão claro como queremos crer, quando faz parecer que nem um nem outro terão necessariamente consciência de sua condição diante do Filho do Homem (Mt 25:37;44).
Oficial X Popular
Tanto a racionalização como a percepção do “outro” são responsáveis pela divisão clara que se estabelece em todas as esferas do comportamento humano entre o oficial e o popular. O pensamento racional e sistemático é insuficiente para permear as questões práticas de nossas vidas. A resposta para nossas necessidades existenciais não provém da razão, mas da experiência. Com a polarização natural entre eu e o outro, as questões de nossa espiritualidade tendem também a polarizar-se entre o oficial e o popular. O conteúdo do oficial é ordenado pela razão, pela classe culta, pela teologia. Mas esse conteúdo é impessoal e distante das necessidades humanas. O resultado é que o popular concorda com o oficial, mas vive um experimentalismo prático e funcional independente do aval do conteúdo ‘aprovado’. Ora, entre um e outro, não existe o certo e o errado. Ambos acertam, ambos erram. A dificuldade aqui, a meu ver, reside em duas questões centrais.
1. Outro. Como já comentado, a percepção do outro como alguém que não trilha o caminho correto (que é, evidentemente, o meu caminho) é crucial. Desprezar o experimento em favor da razão é tão absurdo quanto o contrário. O nivelamento do outro diante de mim é o primeiro passo para que haja uma ponte entre os dois extremos. E a motivação não pode ser fazer com que o outro suba alguns degraus até o meu nível, mas que eu suba alguns degraus até o nível do outro, considerando-o, assim, superior a mim mesmo. Esse nivelamento é a base sobre a qual deve se construir o restante da ponte.
2. O sacerdócio é universal. Creio que o princípio da dicotomia “oficial x popular” são as dicotomias “clero x leigo” e “sacro x profano”. A forma como a igreja trabalha hoje é extremamente arraigada em uma diferenciação entre o que ministra a palavra e o que a recebe. Ser ordenado como pastor (ou presbítero, ou ministro de louvor...) significa, invariavelmente, deixar de pertencer ao grupo dos humanos e adentrar em uma nova casta. E nós cremos que, de alguma forma, dependemos dessa casta para desenvolver nossa espiritualidade. Em alguns grupos, essa casta está sobre constante análise, debaixo de constantes expectativas e julgamentos. Em outros, a casta tem em si aura de santidade. Suas palavras são sopros divinos, seus sonhos, sonhos de Deus, suas loucuras, visões proféticas. Mas em ambos os grupos, existe um mediador entre homens e Deus. Alguém responsável pela minha espiritualidade, pelo meu crescimento, pelo meu relacionamento com Deus. Da mesma forma, cremos que Deus só dá o ar da sua graça na igreja, e desprezamos pessoas e culturas ‘externas’. Criamos o universo cristão, e damos a ele ares de santidade simplesmente pelo título que carrega. Da mesma forma, condenamos à perdição manifestações da graça e da beleza de Deus, unicamente por não carregarem em si o título salvífico de “cristão”.
***
Tenho a impressão que, para construir uma ponte sólida que una o oficial e o popular, temos que demolir o muro entre clero e leigo, entre sacro e profano, entre eu e outro. Viver nossas vidas de igual pra igual com todos os que estão ao nosso redor, seja dentro da “igreja” ou fora dela. Assumir a responsabilidade de nossa espiritualidade para nós mesmos. Desmamar. Andar pelas próprias pernas.
Mas isso só será possível se aqueles que hoje são os “responsáveis” pela nossa espiritualidade abrirem mão dessa responsabilidade. Abrirem mão do poder que têm, e que seduz, de gerir almas. O povo deve ser ensinado que não há ofícios que exijam a presença de alguém ordenado para que possam ser sacramentados. O sacerdócio é universal.
É possível que, diante de uma situação como essa, muitos dentre o povo queiram abandonar as fileiras. Porque o que se quer é o mimo, o colo, a papinha. Mas eu creio que enquanto esse muro estiver entre nós, as pontes não poderão se erguer.
“O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo – horizonte
Abraça o dia de amanhã”
(Maurício Tapajós)
23 de abril de 2007
Quando tudo deixou de existir
Houve, na minha vida, um dia melhor do que todos os outros. Um dia insuperável. Quando todas as coisas em todos os mundos deixaram de existir. Quando houve apenas um momento e um lugar e tudo mais que havia foi tragado por esse bloco sublime do tempo e do espaço. A partir dali tudo se fez novo.
Esse mês faz 10 anos que tudo aconteceu.
O Palhaço, de Egberto Gismonti estava lá.
Esse mês faz 10 anos que tudo aconteceu.
O Palhaço, de Egberto Gismonti estava lá.
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22 de abril de 2007
Todo mundo tem um parente famoso
Todo mundo tem alguém famoso na família. Pelo bem ou pelo mal, algum parente brilha. O meu parente mais famoso brilhou nos palcos do Brasil, nos anos 40 e 50. Irmã do meu avô, conheci a tia Stelinha quando já estava aposentada dos palcos e retornou com seu marido e maestro Lindolpho Gomes Gaya, para a ainda pacata Curitiba. Foi parceira de Luis Gonzaga, cantou junto com Dorival Caymmi e Silvio Caldas, entre muito outros feitos notáveis.
Para mim, um piá com 13/14 anos, ela era uma tia tão querida quanto doida. Me levou na sua Caravan algumas vezes pra tomar sorvete no centro, com sua magnífica peruca ruiva (que brilhou também nos palcos das esquetes cômicas dos grupos de jovens) e calçando um sapato de cada cor.
Quem a conheceu melhor foi meu mano que, depois da morte do Gaya, dormia na casa dela para lhe fazer companhia.
Uma das histórias que contava, olhando para cima, tentando agarrar com os olhos, no céu, os fiapos da memória, era de um menino tímido que freqüentava sua casa, no Rio. Aparecia por lá levando umas musiquinhas bonitas para o Gaya fazer os arranjos. Passavam algumas horas no piano, com outros músicos, até que ela, braba como todo bom Egg, tocava todo mundo de casa para poder dormir. O menino queria gravar um disco, mas não queria cantar. Achava que precisava de um intérprete. Ela e o Gaya insistiram tanto que convenceram o rapaz. O nome do guri ela nunca lembrava, mas não podia esquecer uma das musiquinhas que ela mais gostava.
Segundo as lendas da família, a tia Stelinha e o Gaya foram padrinhos de casamento do Chico Buarque e Marieta Severo.
---
(Gastei algumas horas frustantes da minha vida tentando digitalizar algumas gravações antigas da tia famosa. O resultado lastimável está aí em baixo. Se eu conseguir melhorar isso depois, atualizo).
Já atualizei :-)
---
Mais sobre Stelinha Egg aqui.
Uma biografia bacana aqui.
Discografia aqui.
Stelinha e Gaya – uma história de amor.A voz que levou nosso folclore até a Rússia.
Um monte de coisas aqui.
Para mim, um piá com 13/14 anos, ela era uma tia tão querida quanto doida. Me levou na sua Caravan algumas vezes pra tomar sorvete no centro, com sua magnífica peruca ruiva (que brilhou também nos palcos das esquetes cômicas dos grupos de jovens) e calçando um sapato de cada cor.
Quem a conheceu melhor foi meu mano que, depois da morte do Gaya, dormia na casa dela para lhe fazer companhia.
Uma das histórias que contava, olhando para cima, tentando agarrar com os olhos, no céu, os fiapos da memória, era de um menino tímido que freqüentava sua casa, no Rio. Aparecia por lá levando umas musiquinhas bonitas para o Gaya fazer os arranjos. Passavam algumas horas no piano, com outros músicos, até que ela, braba como todo bom Egg, tocava todo mundo de casa para poder dormir. O menino queria gravar um disco, mas não queria cantar. Achava que precisava de um intérprete. Ela e o Gaya insistiram tanto que convenceram o rapaz. O nome do guri ela nunca lembrava, mas não podia esquecer uma das musiquinhas que ela mais gostava.
Estava a toa na vida
Meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Tocando coisas de amor...
Segundo as lendas da família, a tia Stelinha e o Gaya foram padrinhos de casamento do Chico Buarque e Marieta Severo.
---
(Gastei algumas horas frustantes da minha vida tentando digitalizar algumas gravações antigas da tia famosa. O resultado lastimável está aí em baixo. Se eu conseguir melhorar isso depois, atualizo).
Já atualizei :-)
---
Mais sobre Stelinha Egg aqui.
Uma biografia bacana aqui.
Discografia aqui.
Stelinha e Gaya – uma história de amor.A voz que levou nosso folclore até a Rússia.
Um monte de coisas aqui.
19 de abril de 2007
Apesar de Copérnico, todo o cosmos gira ao redor de nosso pequeno globo
O cristianismo herdou do judaísmo não só um conceito de tempo como algo não repetido e linear, mas também uma surpreendente história da criação. Em sucessivas etapas, um Deus amoroso e todo-poderoso criou a luz e as trevas, os corpos celestes, a terra com todas as suas plantas, animais, pássaros e peixes. Finalmente, Deus criou Adão, e logo em seguida criou Eva, para evitar que o homem estivesse só. O homem colocou nomes nos animais, estabelecendo, assim, seu domínio sobre eles. Deus planejou tudo isso detalhadamente para benefício do homem e para que este o governasse; nada da criação física tinha outra razão de ser que não fosse servir aos propósitos do homem. E, muito embora o corpo do homem fora feito de barro, ele não se constitui em uma simples parte da natureza, já que o homem foi feito à imagem de Deus.
Especialmente na sua versão ocidental, o cristianismo é a religião mais antropocêntrica que o mundo já conheceu. [...] O cristianismo, em absoluto contraste com o paganismo antigo e as religiões da Ásia (exceto talvez o zoroastrismo), não somente estabeleceu o dualismo homem-natureza, como também insiste em que a vontade de Deus é que o homem explore a natureza para seus próprios fins.
[...]
UMA ALTERNATIVA AO PONTO DE VISTA CRISTÃO
Aparentemente tem-se a impressão de que estamos sendo conduzidos a conclusões desagradáveis para muitos cristãos.
[...]
[...]
Para um cristão uma árvore não pode ser nada mais que um fato físico. Todo o conceito de bosque sagrado é alheio ao cristianismo e «ethos» cultural do Ocidente. Aproximadamente durante dois milênios os missionários cristãos têm estado cortando bosques sagrados, em virtude das atribuições espirituais que lhes foram conferidas pelo povo, tornando-se motivo de idolatria.
O que fazemos com a ecologia dependerá de nossas idéias sobre a relação homem-natureza. Uma dose maior de ciência e tecnologia não irá livrar-nos de nossa presente crise ecológica até que encontremos uma nova religião ou reconsideremos a que já temos.
[...]
Possivelmente deveríamos ponderar o indivíduo mais radical da história cristã desde a época de Cristo: São Francisco de Assis. O primeiro milagre de São Francisco é o de não ter acabado em uma estaca, como aconteceu a muitos de seus seguidores da ala esquerda. São Francisco foi um herege tão claro que um dos Gerais da ordem Franciscana, grande cristão e homem muito perspicaz, tratou de suprimir os primeiros registros do franciscanismo. A chave para entender São Francisco é sua crença na virtude da humildade, não somente com relação ao indivíduo, mas pelo homem como uma espécie. São Francisco tentou depor o homem de sua soberania sobre a criação, para apresentar uma democracia de todas as criaturas de Deus. Para ele, a formiga não é mais uma homília dedicada ao preguiçoso, o fogo, um símbolo da alma ao unir-se a Deus; agora eles são a irmã Formiga e o irmão Fogo, os quais dão louvores a Deus de acordo com os ditames da natureza, assim como o irmão Homem o louva de acordo com as suas próprias características.
[...]
Sem dúvida, os atuais e crescentes transtornos do ambiente global é o produto de uma ciência e tecnologia dinâmicas que se foram originando no mundo medieval ocidental e contra o qual São Francisco se estava rebelando de uma forma tão original. O crescimento desta ciência e desta tecnologia não pode ser compreendido historicamente sem que se considerem as diferentes atitudes para com a natureza que estão profundamente arraigadas no dogma cristão. O fato de que a maioria das pessoas não pensa nestas atitudes como sendo cristãs é irrelevante. Nenhum conjunto de novos valores básicos tem sido aceito por nossa sociedade em substituição ao cristianismo. Conclui-se que continuaremos tendo uma crise ecológica progressiva até que se rejeite o axioma cristão de que a natureza não tem razão de existir, a não ser que seja para servir ao homem.
________
Apêndice 1
Do livro A poluição e a morte do homem
de francis Schaeffer
Especialmente na sua versão ocidental, o cristianismo é a religião mais antropocêntrica que o mundo já conheceu. [...] O cristianismo, em absoluto contraste com o paganismo antigo e as religiões da Ásia (exceto talvez o zoroastrismo), não somente estabeleceu o dualismo homem-natureza, como também insiste em que a vontade de Deus é que o homem explore a natureza para seus próprios fins.
Ao destruir o animismo pagão, o cristianismo tornou possível a exploração da natureza com um sentimento de total indiferença para com os valores dos objetos naturais.Ao nível popular, este conceito desenvolveu-se de forma muito interessante. Na Antigüidade, cada árvore, cada riacho, cada rio, cada colina tinha seu próprio geios locais, seu espírito guardião. Esses espíritos eram acessíveis ao homem, porém muito diferentes dele; centauros, faunos e sereias mostravam sua ambivalência. Antes que alguém cortasse uma árvore, escavasse uma montanha ou represasse um riacho, era importante que aplacasse o espírito responsável por aquela situação particular e o mantivesse calmo. Ao destruir o animismo pagão, o cristianismo tornou possível a exploração da natureza com um sentimento de total indiferença para com os valores dos objetos naturais.
[...]
UMA ALTERNATIVA AO PONTO DE VISTA CRISTÃO
Aparentemente tem-se a impressão de que estamos sendo conduzidos a conclusões desagradáveis para muitos cristãos.
[...]
Pessoalmente duvido que nosso desastroso retrocesso ecológico possa ser evitado simplesmente pela aplicação de mais ciência e tecnologia a nossos problemas. Nossa ciência e tecnologia têm-se desenvolvido a partir das atitudes cristãs para com a relação do homem com a natureza, as quais são quase universalmente mantidas não só pelos cristãos e novos cristãos, mas também por aqueles que se ufanam em reconhecer-se como pós-cristãos. Apesar de Copérnico, todo o cosmos gira ao redor de nosso pequeno globo. Apesar de Darwin, não somos, em nossos corações, parte do processo natural. Somos superiores à natureza, a qual desdenhamos, usando-a somente para satisfazer ainda que seja o nosso menor capricho.Nossa ciência e tecnologia têm-se desenvolvido a partir das atitudes cristãs para com a relação do homem com a natureza, as quais são quase universalmente mantidas não só pelos cristãos e novos cristãos, mas também por aqueles que se ufanam em reconhecer-se como pós-cristãos.
Apesar de Copérnico, todo o cosmos gira ao redor de nosso pequeno globo.
[...]
Para um cristão uma árvore não pode ser nada mais que um fato físico. Todo o conceito de bosque sagrado é alheio ao cristianismo e «ethos» cultural do Ocidente. Aproximadamente durante dois milênios os missionários cristãos têm estado cortando bosques sagrados, em virtude das atribuições espirituais que lhes foram conferidas pelo povo, tornando-se motivo de idolatria.
O que fazemos com a ecologia dependerá de nossas idéias sobre a relação homem-natureza. Uma dose maior de ciência e tecnologia não irá livrar-nos de nossa presente crise ecológica até que encontremos uma nova religião ou reconsideremos a que já temos.
[...]
Possivelmente deveríamos ponderar o indivíduo mais radical da história cristã desde a época de Cristo: São Francisco de Assis. O primeiro milagre de São Francisco é o de não ter acabado em uma estaca, como aconteceu a muitos de seus seguidores da ala esquerda. São Francisco foi um herege tão claro que um dos Gerais da ordem Franciscana, grande cristão e homem muito perspicaz, tratou de suprimir os primeiros registros do franciscanismo. A chave para entender São Francisco é sua crença na virtude da humildade, não somente com relação ao indivíduo, mas pelo homem como uma espécie. São Francisco tentou depor o homem de sua soberania sobre a criação, para apresentar uma democracia de todas as criaturas de Deus. Para ele, a formiga não é mais uma homília dedicada ao preguiçoso, o fogo, um símbolo da alma ao unir-se a Deus; agora eles são a irmã Formiga e o irmão Fogo, os quais dão louvores a Deus de acordo com os ditames da natureza, assim como o irmão Homem o louva de acordo com as suas próprias características.
[...]
Sem dúvida, os atuais e crescentes transtornos do ambiente global é o produto de uma ciência e tecnologia dinâmicas que se foram originando no mundo medieval ocidental e contra o qual São Francisco se estava rebelando de uma forma tão original. O crescimento desta ciência e desta tecnologia não pode ser compreendido historicamente sem que se considerem as diferentes atitudes para com a natureza que estão profundamente arraigadas no dogma cristão. O fato de que a maioria das pessoas não pensa nestas atitudes como sendo cristãs é irrelevante. Nenhum conjunto de novos valores básicos tem sido aceito por nossa sociedade em substituição ao cristianismo. Conclui-se que continuaremos tendo uma crise ecológica progressiva até que se rejeite o axioma cristão de que a natureza não tem razão de existir, a não ser que seja para servir ao homem.
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Apêndice 1
Do livro A poluição e a morte do homem
de francis Schaeffer
17 de abril de 2007
O quarto rei
Pouco sei dos seus tempos de guri. Mas sei que no início da juventude se tornou cavaleiro da tropa montada do exército. Sei também que durante uma das epidemias de tuberculose que assolou o país, infectou-se, e passou um longo ano recolhido em um sanatório, que isolava os enfermos na ânsia de eliminar o mal. Depois disso foi grande arqueiro do Palestra Itália de Curitiba (posteriormente homenageado pela AABB com um campo de futebol com seu nome). Foi também campeão de inúmeros torneiros de tênis de mesa. Mas foi definitivamente imbatível na tábua lisa e encerada do fabuloso Três reis. Lá foi mestre. Foi o quarto rei.
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No estalar dos dedos firmes, a jogadeira lançava-se convicta sobre a multidão de peças no centro do tabuleiro. Dos cantos mais improváveis espirravam peças obtusas em ângulos impossíveis sempre na direção certeira da caçapa. Vencia-nos impiedosamente com a mão esquerda, três cantos contra um. Se um dia tivesse havido uma copa do mundo desse jogo, teríamos mais um herói nacional. Invencível, levaria o país a loucura.
Baixe o manual do jogo em PDF aqui.
Regras, imagens e instruções para confecção do tabuleiro e peças.
Tudo elaborado pela "única autoriade do assunto", me modesto avô, Arthur Acastro Egg.
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No estalar dos dedos firmes, a jogadeira lançava-se convicta sobre a multidão de peças no centro do tabuleiro. Dos cantos mais improváveis espirravam peças obtusas em ângulos impossíveis sempre na direção certeira da caçapa. Vencia-nos impiedosamente com a mão esquerda, três cantos contra um. Se um dia tivesse havido uma copa do mundo desse jogo, teríamos mais um herói nacional. Invencível, levaria o país a loucura.
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Herdei seu nome e lembro docemente daquela voz forte e teimosa dizendo, enquanto seus olhos desencontrados me procuravam, com misto de orgulho e sarcasmo – Os 'Arthures' são assim mesmo.
---
Mas houve atos maiores de bravura. Maiores que todos os feitos da juventude, foram os feitos da velhice. Os passeios até a banca pra comprar um gibi para cada neto. As deliciosas e tradicionais saídas para a Batavo, comprar um chocomilk em forma de pirâmide nos sábados depois do futebol do glorioso Pobreza F. C., timão de pelada do qual ele era o técnico honorário. Os mistérios insondáveis do “móe-vidro”. Incontáveis são as horas que passei jogando basquete sozinho no quintal da sua casa. Ou tênis de mesa à noite, na garagem, com meu irmão. E quando ele aparecia por lá, quase cego, um olho apontando para cada canto da mesa, ganhava todas.
---
Lindo mesmo foi ver meu filho com ele. O vigor e a empolgação com que o recebia, abraçava, conduzia para seu escritório e lá passava horas entretendo o bisneto no tabuleiro onde ainda jogava, agora com os dedos trêmulos, suas partidas de três reis. Por vezes permanecia manhãs inteiras sobre o tabuleiro, divertindo-se, como nenhum adulto poderia, com uma criança de 1 ano.
Antes de aprender a andar meu filho já fugia de casa (morávamos nos fundo do terreno do meu avô), engatinhando rumo a casa do ‘bisa’. Mantinha-se em pé apoiado na porta de vidro onde batia fervorosamente, gritando uma das poucas palavras que podia articular – Bisááá! A porta se abria rapidamente, e lá iam os dois, não se podia dizer qual deles mais feliz, em direção àquele escritório repleto de delícias e mistérios.
Herdei seu nome e lembro docemente daquela voz forte e teimosa dizendo, enquanto seus olhos desencontrados me procuravam, com misto de orgulho e sarcasmo – Os 'Arthures' são assim mesmo.
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Mas houve atos maiores de bravura. Maiores que todos os feitos da juventude, foram os feitos da velhice. Os passeios até a banca pra comprar um gibi para cada neto. As deliciosas e tradicionais saídas para a Batavo, comprar um chocomilk em forma de pirâmide nos sábados depois do futebol do glorioso Pobreza F. C., timão de pelada do qual ele era o técnico honorário. Os mistérios insondáveis do “móe-vidro”. Incontáveis são as horas que passei jogando basquete sozinho no quintal da sua casa. Ou tênis de mesa à noite, na garagem, com meu irmão. E quando ele aparecia por lá, quase cego, um olho apontando para cada canto da mesa, ganhava todas.
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Lindo mesmo foi ver meu filho com ele. O vigor e a empolgação com que o recebia, abraçava, conduzia para seu escritório e lá passava horas entretendo o bisneto no tabuleiro onde ainda jogava, agora com os dedos trêmulos, suas partidas de três reis. Por vezes permanecia manhãs inteiras sobre o tabuleiro, divertindo-se, como nenhum adulto poderia, com uma criança de 1 ano.
Antes de aprender a andar meu filho já fugia de casa (morávamos nos fundo do terreno do meu avô), engatinhando rumo a casa do ‘bisa’. Mantinha-se em pé apoiado na porta de vidro onde batia fervorosamente, gritando uma das poucas palavras que podia articular – Bisááá! A porta se abria rapidamente, e lá iam os dois, não se podia dizer qual deles mais feliz, em direção àquele escritório repleto de delícias e mistérios.
____________________________Espero um dia, no vértice da eternidade, alcançar a graça de me transformar em verbo. E que todos os meus amigos estejam lá [especialmente meu avô].Ricardo Gondim (obviamente com uma inclusão minha entre []s)
Baixe o manual do jogo em PDF aqui.
Regras, imagens e instruções para confecção do tabuleiro e peças.
Tudo elaborado pela "única autoriade do assunto", me modesto avô, Arthur Acastro Egg.
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15 de abril de 2007
A deforma protestante
A visão triunfalista enche de energia positiva a nova comunidade [evangélica]. Há uma obsessão pela “vitória”. Não há lugar para derrotados. Como se afirma: “somos mais do que vencedores”. Essa visão faz com que se evite todos os textos bíblicos que falem de problemas, sofrimentos, etc. O sofrimento de Jó, o martírio dos apóstolos, a humildade de Jesus, a prática de não vingar-se são temas esquecidos pela fé triunfalista.
O fiel também será vitorioso.
Há um constante uso de imagens vétero-testamentárias, associadas aos conflitos existenciais cotidianos. As lutas contra os inimigos, como Davi contra Golias, Israel contra os seus inimigos, são temas relacionados com os problemas modernos para encorajar o fiel de que ele também será vitorioso.
O crente é o cliente.
A mídia tem sido o grande veículo dos novos grupos. A expansão das idéias se dá principalmente via programas de rádio e de televisão. Esse procedimento trouxe modificações no panorama evangélico. Anteriormente os grupos eram bem definidos por suas posições doutrinárias e práticas. Hoje, muitas igrejas evangélicas e pentecostais adotam posturas vindas da mídia neopentecostal. Já não é tão fácil identificar a maneira de pensar de uma igreja por seu nome. Há diferenças enormes entre igrejas locais pertencentes a uma determinada denominação. Esse tipo de expansão neopentecostal estabeleceu também uma relação de clientelismo como os novos crentes.
Pronto-socorro espiritual.
As igrejas tradicionais e pentecostais clássicas estavam acostumadas à idéia de comunidade, ou seja uma certa igreja onde “os irmãos” se reúnem, cantam, pregam e convivem por anos. As novas igrejas são, como alguns se autodenominam, “pronto-socorro espiritual”. São igrejas grandes, feitas para multidões, abertas o dia inteiro em locais movimentados, onde não há uma relação comunitária e o fiel vai apenas para buscar “a bênção”, ou melhor dizendo “comprar” a bênção, já que a relação não meritória diante de Deus, tão enfatizada no protestantismo histórico, foi substituída por uma relação do tipo “toma lá, dá cá”.
A Aparecida do Norte dos neopentecostais.
O imaginário católico permanece na mente dos fiéis convertidos. Todavia é necessário rejeitar os símbolos antigos. Em seu lugar são colocados símbolos judaicos. Muitos usam estrelas de Davi, candelabros... tudo que vem de Israel é sagrado. Jerusalém é a nova “Aparecida do Norte” dos neopentecostais. A ruptura com a cultura dominante e ausência de história e ícones produz uma busca de símbolos, que são encontrados na cultura judaica.
____________________________________________
Adaptado do texto de Luiz Alberto T. Sayão
UMA AVALIAÇÃO SOCIOLÓGICADO PENTECOSTALISMO
E DO NEOPENTECOSTALISMO CONTEMPORÂNEO
Luiz Alberto T. Sayão é professor de hebraico e de Antigo
Testamento no Seminário Servo de Cristo, em São Paulo (SP).
Foi coordenador da Nova Versão Internacional da Bíblia e
é atualmente editor acadêmico de Edições Vida Nova.
O fiel também será vitorioso.
Há um constante uso de imagens vétero-testamentárias, associadas aos conflitos existenciais cotidianos. As lutas contra os inimigos, como Davi contra Golias, Israel contra os seus inimigos, são temas relacionados com os problemas modernos para encorajar o fiel de que ele também será vitorioso.
O crente é o cliente.
A mídia tem sido o grande veículo dos novos grupos. A expansão das idéias se dá principalmente via programas de rádio e de televisão. Esse procedimento trouxe modificações no panorama evangélico. Anteriormente os grupos eram bem definidos por suas posições doutrinárias e práticas. Hoje, muitas igrejas evangélicas e pentecostais adotam posturas vindas da mídia neopentecostal. Já não é tão fácil identificar a maneira de pensar de uma igreja por seu nome. Há diferenças enormes entre igrejas locais pertencentes a uma determinada denominação. Esse tipo de expansão neopentecostal estabeleceu também uma relação de clientelismo como os novos crentes.
Pronto-socorro espiritual.
As igrejas tradicionais e pentecostais clássicas estavam acostumadas à idéia de comunidade, ou seja uma certa igreja onde “os irmãos” se reúnem, cantam, pregam e convivem por anos. As novas igrejas são, como alguns se autodenominam, “pronto-socorro espiritual”. São igrejas grandes, feitas para multidões, abertas o dia inteiro em locais movimentados, onde não há uma relação comunitária e o fiel vai apenas para buscar “a bênção”, ou melhor dizendo “comprar” a bênção, já que a relação não meritória diante de Deus, tão enfatizada no protestantismo histórico, foi substituída por uma relação do tipo “toma lá, dá cá”.
A Aparecida do Norte dos neopentecostais.
O imaginário católico permanece na mente dos fiéis convertidos. Todavia é necessário rejeitar os símbolos antigos. Em seu lugar são colocados símbolos judaicos. Muitos usam estrelas de Davi, candelabros... tudo que vem de Israel é sagrado. Jerusalém é a nova “Aparecida do Norte” dos neopentecostais. A ruptura com a cultura dominante e ausência de história e ícones produz uma busca de símbolos, que são encontrados na cultura judaica.
____________________________________________
Adaptado do texto de Luiz Alberto T. Sayão
UMA AVALIAÇÃO SOCIOLÓGICADO PENTECOSTALISMO
E DO NEOPENTECOSTALISMO CONTEMPORÂNEO
Luiz Alberto T. Sayão é professor de hebraico e de Antigo
Testamento no Seminário Servo de Cristo, em São Paulo (SP).
Foi coordenador da Nova Versão Internacional da Bíblia e
é atualmente editor acadêmico de Edições Vida Nova.
12 de abril de 2007
Apesar de relutantes
Hoje o dia não foi fácil. A pressão e confusão no trabalho foram de matar. Cheguei em casa fervendo e a primeira coisa que vi foi meus filhos brigando. E toda pressão do dia foi desproporcionalmente arremessada sobre os pequeninhos. Quase que simultaneamente entrei, por outro motivo, em um pequeno atrito com a Sandra, minha esposa, que minha alma afetada transformou num grande choque.
No instante seguinte me encontrava sozinho na mesa da cozinha, tomando um nescau gelado e pensando no estudo que faria dentro de 20 minutos sobre a vida de Jesus e a missão da Igreja. Que meleca. O que eu queria mesmo era ficar sozinho ali e dar uma bolacha no primeiro infeliz que me aparecesse pela frente. A última coisa que me sentia capaz de fazer era estar diante de um grupo falando sobre Jesus.
Mas, como já disse antes, graças a Deus pela graça de Deus. Lembrei naquela hora que Deus não nos usa pelo que somos, mas apesar do que somos. E passei alguns minutos pensando e curtindo essa misteriosa graça.
Na hora da reunião, compartilhei toda essa história com o grupo e oramos, todos, agradecidos pelo amor gracioso de Deus que não depende de nossa capacitação para revelar-se e mover-se entre nós. Depois, graças a sugestão da Sandra, outros contaram suas histórias e oramos por todos.
No fim das contas, pudemos observar que acabávamos de viver de forma prática a nossa missão como igreja. Porque tudo que Jesus espera de nós é que compartilhemos nossas vidas, alegrias, dores e medos, e com compaixão e amor tratemos das feridas uns dos outros, e trilhemos juntos nossa caminhada com Cristo.
Por fim, para arrematar, ouvimos uma belíssima canção do Jorge Camargo.
---
Eu estou aqui
Eu me rendo a Ti
Embora por todo esse tempo
Lá fora vagando ao relento
Relutasse em vir
Mas o Teu amor
Infinito amor
Levou-me à Tua presença
Renouvou-me a fé e a esperança
Quero Te servir
Eu estou aqui
Eu me rendo a Ti
Com meu coração novo e aberto
Agora e sempre por certo
Quero Te servir
____________________________
Do CD O Chamado de Jorge Camargo
à venda na loja virtual da VPC
---
Coisa mais linda o amor infinito de Deus, que nos leva a Ele, apesar de tantas vezes estarmos relutantes.
No instante seguinte me encontrava sozinho na mesa da cozinha, tomando um nescau gelado e pensando no estudo que faria dentro de 20 minutos sobre a vida de Jesus e a missão da Igreja. Que meleca. O que eu queria mesmo era ficar sozinho ali e dar uma bolacha no primeiro infeliz que me aparecesse pela frente. A última coisa que me sentia capaz de fazer era estar diante de um grupo falando sobre Jesus.
Mas, como já disse antes, graças a Deus pela graça de Deus. Lembrei naquela hora que Deus não nos usa pelo que somos, mas apesar do que somos. E passei alguns minutos pensando e curtindo essa misteriosa graça.
Na hora da reunião, compartilhei toda essa história com o grupo e oramos, todos, agradecidos pelo amor gracioso de Deus que não depende de nossa capacitação para revelar-se e mover-se entre nós. Depois, graças a sugestão da Sandra, outros contaram suas histórias e oramos por todos.
No fim das contas, pudemos observar que acabávamos de viver de forma prática a nossa missão como igreja. Porque tudo que Jesus espera de nós é que compartilhemos nossas vidas, alegrias, dores e medos, e com compaixão e amor tratemos das feridas uns dos outros, e trilhemos juntos nossa caminhada com Cristo.
Por fim, para arrematar, ouvimos uma belíssima canção do Jorge Camargo.
---
Eu estou aqui
Eu me rendo a Ti
Embora por todo esse tempo
Lá fora vagando ao relento
Relutasse em vir
Mas o Teu amor
Infinito amor
Levou-me à Tua presença
Renouvou-me a fé e a esperança
Quero Te servir
Eu estou aqui
Eu me rendo a Ti
Com meu coração novo e aberto
Agora e sempre por certo
Quero Te servir
____________________________
Do CD O Chamado de Jorge Camargo
à venda na loja virtual da VPC
---
Coisa mais linda o amor infinito de Deus, que nos leva a Ele, apesar de tantas vezes estarmos relutantes.
5 de abril de 2007
Incríveis crentes e seus textos maravilhosos
Uma série de gente e seus livros influenciaram (e seguem influenciando) fortemente minha postura cristã nos anos recentes. Gosto de cita-los e propagandea-los porque creio que a influência está sendo para mim profundamente libertadora, e creio que possa agir da mesma forma em outros.
Aqui vai uma pequena lista dos mais, mais:
> Philip Yancey – Maravilhosa Graça e O Jesus que Nunca Conheci
> Brennan Manning – O Evangelho Maltrapilho e O Impostor que Vive em Mim
> Henry Nouwen – A Volta do Filho Pródigo
> Fiodor Dostoievsky – Os Irmãos Karamazovi
Além de textos saboreados direta e gratuitamente na internet de:
Ricardo Gondim
Caio Fábio
Ed René Kivitz
Paulo Brabo
Desse último, foi recentemente lançado em meio digital, livre e desonerado o revolucionário e-book – Em 6 passos o que faria Jesus. Você pode baixar e saborea-lo aqui.
E ainda as músicas arrebatadoras do Jorge Camargo, que gentilmente dispões também de forma gratuita em seu site algumas amostras. Confira.
Vale a pena.
Aqui vai uma pequena lista dos mais, mais:
> Philip Yancey – Maravilhosa Graça e O Jesus que Nunca Conheci
> Brennan Manning – O Evangelho Maltrapilho e O Impostor que Vive em Mim
> Henry Nouwen – A Volta do Filho Pródigo
> Fiodor Dostoievsky – Os Irmãos Karamazovi
Além de textos saboreados direta e gratuitamente na internet de:
Ricardo Gondim
Caio Fábio
Ed René Kivitz
Paulo Brabo
Desse último, foi recentemente lançado em meio digital, livre e desonerado o revolucionário e-book – Em 6 passos o que faria Jesus. Você pode baixar e saborea-lo aqui.
E ainda as músicas arrebatadoras do Jorge Camargo, que gentilmente dispões também de forma gratuita em seu site algumas amostras. Confira.
Vale a pena.
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